CHILE – Lagos Andinos e Santiago
Essa viagem foi um grande achado! Eu
estava sem muitos recursos financeiros e me deparei com esse roteiro muito "em conta": BRASIL/BUENOS
AIRES/BARILOCHE/LAGOS ANDINOS/SANTIAGO. Um roteiro pouco comercial, em que fui
surpreendida durante 15 dias. Nunca imaginei encontrar tanta aventura, beleza e
história aqui pertinho. Fui em pacote para os Lagos Andinos porque estava sozinha e fiz por conta própria a parte
de Santiago. Mas tudo programado e
reservado daqui do Brasil.
E como é diferente viajar sozinha pela
Europa e pela América Latina! Na Europa é comum pessoas sozinhas em qualquer
ambiente e em qualquer idade. Aqui tive algumas “olhadas questionadoras” das
pessoas por onde ia (restaurante, vinícolas, etc), bem como no próprio grupo de
latinos e brasileiros que conheci no pacote dos Lagos Andinos. Certamente que fiz
boas e inesquecíveis amizades, mas eu era o único “ser” fazendo esse roteiro
sozinho. E sempre tinha que responder a mesma pergunta: “Porque você está viajando sozinha?”.
Isso não comprometeu em nada a viagem, pois além de desfrutar de um cenário
encantador, que deve ser feito em qualquer situação (sozinho, casal, amigos,
família), é uma escolha única para quem está de bem com a vida. E lá fui eu....
A chegada é por Buenos Aires para um
curto espaço de tempo (se preferir pode esticar os dias em Buenos Aires). Para
quem vai pela 1ª. vez, sugiro um city tour básico para conhecer a Casa Rosada, Catedral, Plaza de Mayo, Obelisco, Avenida
Corrientes e 9 de Julho, bairros da Recoleta, La Boca e Caminito. Um pequeno
espaço de tempo para a Rua Florida e as Galerias Pacífico. Um belo jantar com
noite de tango e um maravilhoso café da tarde, no Café Tortoni (claro!). Injustiça resumir Buenos Aires assim, mas dedicarei outro post à altura da
cidade. Prometo!!!
Nem tudo é perfeito né? Pois então, ao
chegar em Bariloche, descobri que o
local era para casais em lua de mel e família em férias escolares (imaginem a
minha situação!!!). O que me salvou mesmo foi saber que esse era o ponto de
partida para os Lagos Andinos e aproveitar a neve pela 1ª. vez . Convenci-me
que estava tudo normal, com ares de “Diva”. Aproveitei para comer de tudo e
caminhar na cidade...afinal era a 1ª. vez que eu via neve! A sensação em
conhecer a neve foi incendiária...à primeira vista senti o branco e o frio me
queimando as vistas e o corpo. Aquela visão de que parece fofinho como
algodão???? M-E-N-T-I-R-A . Totalmente branca e dura. Confortável de ver e
desconfortável de sentir. Mas, na emoção, chorei, pois nunca pensei na vida em
ver neve (clichê né?).
LAGOS ANDINOS....onde a viagem começou de verdade!
Então seguimos para os Lagos
Andinos...cujo ponto de embarque era Bariloche, em Catamarã, pelo Lago Nahuel Huapi. Destino: Peulla, cruzando
a Cordilheira dos Andes. A visão muda já na fronteira Argentina e Chile. Na
Zona sul da Cordilheira do Andes conheci o “El
Tronador”, um vulcão ainda ativo, que teve a ultima erupção há mais de
10.000 anos. Dizem que é baixíssima a probabilidade de entrar em atividade.
A visão é assustadora e belíssima. Um misto de medo e prazer. Seguindo o percurso de Catamarã, vi uma natureza muito diferente e forte. Senti nos olhos o verde esmeralda das águas, o branco da neve e o azul quase celeste do céu, mistura exuberante de cores e sentimentos nunca dantes presenciados, mas de uma harmonia impressionante. Paramos em Peulla para um pernoite no Hotel Peulla, com estilo “ecoturismo”, e estrutura e serviços “impecáveis”. No dia seguinte, seguimos a rota cuja vedete desse trecho é Vulcão Osorno, considerado ativo e muito conhecido pela semelhança ao Monte Fuji (Japão). A cada instante, mais e mais impressionada com a rusticidade de Deus e a perfeição de sua obra. O Osorno tem uma neve constante em seu topo e a qualquer momento pode entrar em erupção, sendo a ultima registrada em 1869. Chegamos a Puerto Varas, uma cidade charmosa com arquitetura alemã, bastante turística e com restaurantes maravilhosos que “encerraram” maravilhosamente essa parte exótica e inusitada.
E fiquei pensando como traduzir e materializar essa beleza...tão sofisticada e simples de ser vista e difícil de ser sentida .... o verde esmeralda na água corrente reflete com uma intensidade que os olhos não acompanham. Não dá para sentir quente ou frio...é indefinido...o azul celeste do céu, bem poderia ser o azul do mar...no horizonte..quase impossível diferenciar....e o branco da neve, parece um abraço de Deus em tudo isso, um verdadeiro paraíso. Ah! Claro... El Tronador e Osorno...protegem e mantém o equilíbrio porque muitos acreditam que é onde o demônio descansa....deixo-os assim..por mais 10.000 anos...intocáveis....
O
Chile e sua diversidade étnica...
Não sabia absolutamente nada do Chile,
exceto sobra a fama dos vinhos. Quando cheguei à Santiago observei um
povo “misturado”, com predominância do tipo “indígena”. Vi uma educação
fantástica nas pessoas. Conheci um pouco de suas dores quando falam sobre o Golpe. Enfim... comecei a entender o Chile e sua história...forte e sangrenta....linda
e cheia de riquezas....
Quando os espanhóis chegaram (sec. XV),
encontraram um local povoado pelos Incas
e Mapuches. Mesmo confrontados pela maioria indígena, os espanhóis tiveram
apoio de algumas facções das tribos, o que levou à Conquista Espanhola e
escravização indígena para o trabalho de exploração de ouro e serviços
domésticos. O ouro era o motivo maior de exploração do local, até se esgotar, quando
então a economia ficou concentrada na mão de obra doméstica dos índios.
Foi um processo natural o surgimento
de uma camada mestiça que ascendeu às classes dominantes, formadas por filhos
de homens espanhóis com mulheres indígenas. Com o tempo, esses mestiços queriam
“branquizar” essas classes dominantes (que eles agora pertenciam) e no século
XIX, o Chile passou a incentivar a vinda de imigrantes europeus com o objetivo de
mesclar a população mais rica e branquizá-la. Então, formou-se uma elite
“branca” de imigrantes, não necessariamente espanhola. E o povo com predominância
indígena.
Em 1818 o Chile alcançou a independência. O
que mais me marcou foi ver nas pessoas a memória dos 17 anos de ditadura
militar (1973-1990), considerada uma das mais sangrentas do século XX na
América Latina (o presidente eleito em 1970, Allende sofreu um golpe de estado pelo general Augusto Pinochet ). A
história está impregnada nesse povo e a memória está viva. E aqui faço uma
referência especial ao povo que vi no Chile : do motorista de taxi ao garçom do
restaurante, todos sabiam falar sobre economia, política e história com uma
coerência e patriotismo impressionantes. Povo culto, inteligente e sofrido que me
ensinou como recomeçar e reconstruir, sem esquecer de seu passado. E estou
falando de pessoas jovens! Estou me referindo à composição étnica da base da
pirâmide, formada de índios. Quero afirmar que a educação no Chile fez e faz a
diferença.
Alguns
dias em Santiago....
Estive por conta própria, fazendo
minha programação. Observei que os principais pontos turísticos estão bem
próximos do Centro. Por isso fiquei hospedada no centro, no Hotel Majestic,
porque assim eu poderia me locomover com mais facilidade (estando sozinha).
Esse hotel é muito especial, pois, dentro dele tem um excelente restaurante de cozinha
indiana. Fiquei cliente...jantei umas 3 noites lá.
Facilmente chega-se ao Palácio de La Moneda (sede do governo
do Chile e do poder executivo) e pude ver o pátio. Bem perto dali fica a Plaza de Armas e tive a sorte de ver
troca da Guarda. Caminhando encontrei o Mercado
Central e fiquei cliente (fui almoçar lá uns 3 dias da estadia em Santiago).
Uma infinidade de restaurantes com comida típica e muitos pescados. Aproveitei
um dia bem “largo” para visitar calmamente o Museu Chileno de Arte Pré-Colombiana, que me pareceu ser bem
completo sobre a cultura pré-colombiana. Tenho fascinação por essa
cultura. Tirei um dia para visitar a vinícola Concha y Toro, muito conhecida no Brasil. Fundada em 1883, que eu além
de vinhos extremamente sofisticados, tem um dos vinhos mais conhecidos aqui no
Brasil, que é o Casillero del Diablo. Reservei outro dia para a
vinícola Cousino Macul, que ainda
hoje é administrada pela família fundadora (desde 1856). Por estar bem próxima da
cidade, corre o risco de ser descontinuada por causa da poluição da cidade.
Subi o Cerro San Cristobal, um parque urbano de onde se tem a vista
completa e cinzenta de Santiago. As compras de “regalos” foram um
capítulo à parte. Em frente ao Cerro de
Santa Lucía tem uma Feira de Artesanato maravilhosa e completa. Preços
ótimos. O que mais se procura são os objetos e joias de lápis lázuli (pedra
azul encontrada no Chile e Afeganistão). Também visitei do Pueblito Los Dominicos que tem um artesanato bem variado e nesse
local os artesãos se organizam como um ambiente de “povo do campo”, bem típico.
A antiga residência de Pablo Neruda, que
hoje é um museu, fica em Isla Negra e é onde ele está enterrado. Conhecido e
admirado mundialmente pelas obras, ainda tem sua memória muita viva nessa casa.
Não sou uma conhecedora do poeta e escritor com a sensibilidade dos
intelectuais, mas as horas que passei em sua casa, percebi que era um homem
intenso, apaixonado, inconstante, incompreendido, insaciável, cheio de vida e
de uma tristeza profunda (tudo ao mesmo tempo). Fui pesquisar mais sobre ele e
li que Isabel Allende, em seu livro Paula, fala que Neruda teria morrido de
"tristeza" ao ver dissolvido o governo de Allende. Já a versão do ditador
Pinochet é a de que ele teria morrido devido a um câncer de próstata. Bom....isso
não faz mais diferença...nem Neruda
e nem Pinochet vivem....ambos
passaram e suas histórias ficaram. Então....além de toda essa história
belíssima, fui seduzida pelas livrarias de Santiago. Foram as melhores compras
que fiz. Apesar do peso na mala, pude ter acesso a títulos em espanhol, mais
que especiais, como por exemplo, o livro de
Gabriel Garcia Marquez “Memóriasde Mis Putas Tristes”. Além disso, tem (a polêmica) Isabel Allende
que me encanta profundamente e com ela aprendi a ler muito bem em espanhol. De
uma sensibilidade e simplicidade. Uma novelista de primeira. Assim fiz esse tour...umas das muitas viagens
que fiz sozinha. Descobri um inverno rigoroso, vi a neve pela 1ª. vez, vulcões
adormecidos e águas de cor esmeralda. Apreciei vinhos e gastronomia. Perdi-me
em Santiago e me encontrei nas grandes livrarias. Tive muitos dias que fiquei
sozinha, mas nenhum dia de solidão...
Encantei-me com a história e a garra desse povo....voltei transbordando de
vontade de explorar “outros mundos”....esse roteiro me trouxe coragem e me deu
poesia para todos os outros dias do resto de minha vida.
Delícia de viagem! Do chile eu conheci o Atacama, que tam,bém é um ugar incrível!
ResponderExcluirAh !Espero que vc esteja assim disciplinada para sua apresentação de dança também!!! Bjão
Voltando a ler, com calma, seus posts. Suavizando meus sentimentos, com suas palavras diria... "espelhadas". É como se estivesse ouvindo de você e imaginando a paisagem e sentindo, até mesmo, os cheiros...
ResponderExcluirSaudades prima....bjs
ResponderExcluirAndrea,
ResponderExcluirPor onde vc adquiriu o pacote? Recomenda a CVC? Eu queria fazer somente Lagos Andinos e talvez Santiago (sozinha também!)...
Obrigada!
Oi Natália,
ResponderExcluirEu acho que viagens em pacotes ficam mais agradáveis em grupos menores. Não conheço o serviço da CVC, mas me parece que são grupos grandes. Eu uso o serviço da NEW AGE e tenho uma agente de viagens em Brasilia. Se você vai sozinha e quer ir em grupo, recomendo que faça isso com grupos pequenos. bjs
Andréa