CAMBARÁ DO SUL/RS - O Vento fala....
Amigos!
Cambará do Sul soa como um romance/ficção de Érico
Veríssimo que tão bem descreveu essa terra, seus encantos e magia. E parece
mesmo saído de um livro essa região que surgiu quando os tropeiros a utilizam
como pouso/descanso. O local, cheio de árvores de Cambará, com o tempo passou a
se chamar Cambará e tornou-se uma cidade linda e típica da história do sul.
Cambará (que fica ao Sul dos Aparados da
Serra) é tão pequena e aconchegante (em torno de 6.000 habitantes) que a
vontade é ficar para sempre. Protegida pelo padroeiro São José, é na praça “São
José” (em frente à Igreja Matriz) que está a árvore Lunar. Uma Sequoia com uma
história peculiar: essa árvore foi parte das mudas de Sequoias geradas em solo
lunar a partir das sementes levadas por um dos astronautas na missão espacial
da Apolo XIV, quando de sua viagem à lua, retornando à terra por volta de 1971.
A Sequoia pode viver até 1000 anos e na época, o Prefeito Pedro Teixeira Constantino (in memória) conseguiu essa muda para a
cidade e para a posteridade. Toda a cidade exala essa paixão pela preservação
do meio-ambiente e ecologia, pregando um modelo de vida mais simples e mais
humano.
A riqueza está na terra. A consciência das pessoas que vivem lá é muito
além da nossa realidade nos grandes centros. E eles sabem que tem um “tesouro”
nas mãos que somente agora está sendo descoberto pelas pessoas do mundo inteiro.
Além da calmaria típica
e adorável, a cidade oferece excelentes opções gastronômicas. Para comer um
delicioso galeto tem que ir ao Casarão
com um vasto buffet no sistema de
rodízio e um detalhe: a parte da salada é toda produzida pelo restaurante que tem
uma horta no quintal!!!! À noite, a lareira, a sopa e o vinho do Zuppa são concorridíssimos. Melhor reservar. Um local
descolado é A Taberna. A panqueca é de comer ajoelhado e o
local é estiloso! E a delícia do clima??? Cambará do Sul é a 2ª. Cidade mais
fria (só perde para São Joaquim em Santa Catarina) do Brasil. Conhecer tudo
isso e ainda lidar com vento... ah!!!!...esse famoso vento de Cambará...
A história começa com uma “tal de” PANGEA!
Um único continente
existiu há 200 milhões de anos durante a era Paleozoica formando uma coisa só,
daí o nome: pan do grego = todo, inteiro e exprime a noção de totalidade,
universalidade, formando um único bloco de terra (gea) ou Geia ou Gaia
(mitologia) ou Ge como a Titã grega que personificava a terra com todos os seus
elementos – PANGEA! Palavra que mais ouvi em Cambará... Depois
de milhões de anos a Pangeia se separa em dois continentes que se deslocam em
sentidos opostos. A parte correspondente à Antártida,
América do Sul, África, Austrália e
Índia, chama-se Gondwana e a outra parte era América do Norte, Europa, Ásia e o Ártico e se chama Laurásia.
Em algum momento Gondwana começou a "rachar" separando
África e América Latina e os processos erosivos formaram os cânions que hoje
conhecemos como os Aparados da Serra
(Rio Grande do Sul e divisa com Santa Catarina). São mais de 36 cânions surgidos,
contornados por partes da Mata Atlântica e outras pelos pinheiros de Araucárias.
Em Cambará do Sul estão os dois Parques Nacionais: O Parque “Aparado da Serra” onde fica o famoso Canion
Itaimbezinho e o Parque da Serra Geral onde fica o espetacular Canion Fortaleza.
Os Aparados
da Serra são encostas que parecem ter sido cortadas à faca.
As ranhuras lembram muito rachaduras, mas de uma precisão impressionante. Itaimbezinho é um desfiladeiro onde percorremos 2 trilhas: a Trilha do Vértice (uns 2 km) e a Trilha do Cotovelo (uns 6 km), com a belíssima visão das duas cachoeiras: “Andorinhas” e “Véu de Noiva”. A trilha é fácil, agradável e impressiona os paredões do canion com aproximadamente 700m. Já em direção ao Parque Nacional da Serra Geral (uns 20 km de Cambará) encontramos o famoso e ensurdecedor cânion da Fortaleza.
São 7 km de extensão e paredões que chegam a 980m de
altitude. A trilha exige um pouco mais de preparo. Subidas e descidas,
travessia de rio e, ao chegar, a vista vale demais o esforço. Depois de muita
contemplação e uma parada para presenciar o canion e o vento se engalfinhando como
se estivessem brigando, hora de seguir a famosa trilha (bem mais complexa
apesar de serem poucos 3 km) para a Pedra
do Segredo que consiste numa pedra com a base bem afunilada apoiada numa
outra pedra e que nunca se moveu. Parece que ela está literalmente equilibrada
na outra pedra. Nem chuva, nem vento e nem gente conseguiu movê-la.
Chegar
nesse local é mais difícil que chegar ao canion. E no caminho, alguém mais
curioso pergunta ao guia: e qual o segredo da pedra do segredo?
Hahaha... eis que o guia me sai com essa : - O segredo? É o equilíbrio....Parei...parei...parei... o guia me
resume anos de terapia: o segredo é o equilíbrio!
E foi pensando na musica
de Gilberto Gil “se eu quiser falar com Deus” que eu defino meu desbravamento
“sozinha” numa região tão protegida, e quiçá... seja o Quintal de Deus...será
que não foi aqui que Ele descansou no 7º. Dia?
Conhecer a força da natureza e os Cânions de Cambará do Sul foi
exatamente como diz a musica:
““...
E se eu quiser falar com Deus
Tenho
que me aventurar
Eu
tenho que subir aos céus
Sem
cordas prá segurar
Tenho
que dizer adeus
Dar
as costas, caminhar
Decidido,
pela estrada
Que
ao findar vai dar em nada
Nada,
nada, nada, nada
Nada,
nada, nada, nada
Nada,
nada, nada, nada
Do
que eu pensava encontrar!”
Coisas especiais de Cambará do Sul
Além de toda essa
riqueza natural, Cambará tem anjos que estão aqui e ali. Eis que conheci o “seu
José”... um italiano muito brasileiro que se emociona cada vez que começa a falar
de suas crenças na ecologia, na terra e mãe natureza. Homem de fala mansa,
sorriso acolhedor, olhar detalhista e um grande construtor e idealizador do
projeto Quintais de Cambará.
Ao todo são 7 projetos (Trilha
Vale das Bromélias e Sapecada do Pinhão – EcoCambará, Show Folclórico com
Churrasco no Rancho Cabotiá (churrasco na vala), Tiro de Laço e Tradições
Gaúchas, Fazenda Cascatas dos Venâncios (mini Foz do Iguaçu), Contação de
Causos Gaúchos e Culinária Gaúcha Tradicional, Artesanato Kantu Kente (lã
natural, roca e tear) e Sítio Querência Macanuda.
O Cambará EcoHotel e a Trilha das
Bromélias é um desses projetos que recebe, acolhe e ensina pela paixão do “seu
José”! Ele é o guardião dessa riqueza e logo no primeiro encontro nos conduz a
uma trilha (dentro do perímetro do hotel) proporcionando uma aula de geologia,
biologia, história, cultura, ecoturismo e por aí vai... a vontade é nunca mais
largar o “seu José”. O Cambará EcoHotel é o primeiro da
região planejado no conceito de sustentabilidade, 100% não fumante, captação e
água de chuva, aquecimento solar, área de preservação ambiental, separação de
lixo seco e orgânico, cobertores feitos com fibras de garrafas pet,
enfim...tudo é possível nesse hotel.
Na região do hotel tem mata particular de
araucárias e um lago delicioso para contemplação e relaxamento. Uma sala
ecumênica no alto do monte permite uma interação maior com nossas crenças. “Seu
José” nos leva a um mundo sonhado, idealizado e distante, mas que em Cambará já
é realidade. No final da caminhada ele nos agracia com uma sapecada de pinhão,
degustação de grappa e cachaça. O outro projeto dos Quintais que conheci é o Artesanato Kanto Kente que surgiu a
partir dos costumes das famílias de tecerem suas próprias vestimentas em lã de
ovelha, por causa das baixas temperaturas dos invernos. É um abraço se vestir
com essa lã e prestigiar as senhoras que a produzem. Impossível sair de lá sem
alguma coisa “quentinha” e não lembrar da série “A Casa das 7 Mulheres” (que
foi feito em Cambará). E, para
fechar com chave de outro, “Sabores daQuerência” que sempre de bom humor recepciona
cada “passante” para falar de suas frutas exóticas cultivadas de forma
orgânica, sem produtos químicos ou agrotóxicos. Framboesas, amoras, mirtilos,
phisalis, tudo produzido no local.
A
degustação das geleias e antepastos é um tempo de esquecer. Sem pressa. Saímos
de lá carregados de geleias e o melhor é que os produtos podem ser comprados
por internet. Eles têm clientes no mundo todo! Bom... só deu tempo de conhecer
3 projetos....ainda faltaram 4 projetos
que me esperam em Cambará!
E como chegar nesse
paraíso? A melhor forma é de carro mesmo e a estrada é boa. Eu me aventurei ir de ônibus,
saindo de Porto Alegre, mas como a cidade ainda não tem muito contingente de
pessoas indo para lá, os horários são bem complicados e arriscados. A empresa
CITRAL tem alguma logística. Claro que por ser um paraíso, não
pode ser tão fácil de chegar né? Mas a peregrinação vale a pena!
E a agência/receptivo
“Guia Aparados da Serra” tem um carinho e atenção
bem bacana com o turista, sempre dando detalhes e com muito cuidado com os
turistas. Para quem quer um pouco mais de facilidade, essa agência oferece
pacotes completos (transfer e passeios), saindo do aeroporto ou de Porto
Alegre.
É isso povo! Este ano
estive no paraíso de Pipa (RN) que (com seu calor e natureza) me fez PARAR e
agora fui ao extremo sul (RS), cujo frio e a vento, me fizeram SEGUIR ...olha...tem
sido uma aventura ir aos extremos, mas como bem disse o “mago” guia de Cambará:
o segredo é o equilíbrio! E para chegar lá...tem que ir nos extremos!
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Agradeço seu comentário. Andrea Pires