ANDALUZIA – A Granada que conheci....
(Agustin
Lara)
mi cantar hecho de fantasia, mi cantar flor de melancolia, que you te vengo a dar... Granada, tierra ensangrentada
en tardes de toros, Mujer que conserva el embrujo de los ojos moros de sueño rebelde y gitana cubierta de flores y beso tu boca de grana jugosa manzana que me habla de amores
Granada Manola cantada en coplas preciosas no tengo otra cosa que darte
que un ramo de rosas de rosas de suave fragancia que le dieran marco a la Virgen Morena...Granada, tu tierra está llena de lindas mujeres de
sangre y de sol
Sim...Plácido Domingo embala essa viagem com muita certeza do que canta....com intensidade e fervor, porque Granada é assim...
Granada tem
02 coisas muito fortes na minha memória: as “figueiras” seculares que contornam
Alhambra e as “romãzeiras”, que
simbolizam a cidade (Granada traduzido para português é Romã). Tanto o “Figo”
quanto a “Romã” são do oriente e, segundo lendas e histórias populares, a
romã está associada à paixões e fecundidade, dedicada à deusa Afrodite. Os
judeus a veem como símbolo religioso muito utilizado no ritual de passagem de
ano e os árabes veneram seus poderes medicinais. O Figo, é sagrado para os
judeus e para os budistas e muito consumido no mediterrâneo como fruto seco.
Granada tem cheiro de romã e a cor de figo...vermelho e verde misturados à cor
branca das casas que predomina nas paisagem. Granada é única aos olhos. Poética,
romântica, jovem, antiga, silenciosa e
colorida. Como uma visão de um Oásis no meio do deserto...é assim que a
chamo...meu Oásis de Andaluzia...
A cidade tem
essa mescla viva de árabes, ciganos e judeus, encravada na sua geografia e
história através das cuevas de Sacromonte, do mercado árabe, das teterias
(casas de chás), da vida boêmia de seus bares, dos poemas de Lorca e da forma
“Andaluza” de viver...a velocidade de Granada nos impõe seu freio...não tenha
pressa! Suba cada ladeira bem devagar, descubra-a e se descubra, pois o
silêncio de suas ladeiras nos proporciona uma intimidade individual preciosa.
A História nos diz
que....
A cidade foi
um reduto de árabes, judeus e ciganos que conviveram pacificamente até
conquista dos reis católicos, 1492. (ultima cidade conquistada). O ultimo rei muçulmano “Boadbil” ficou famoso pela forma que se rendeu, assegurando que
seus súditos fossem tratados sem violência. Conta a lenda que em sua partida
para o exílio, em prantos, sua mãe lhe disse “Llora como mujer lo que no
supiste defender como hombre”. Triste e derrotado, seguiu para Fez
(Marrocos) onde morreu em batalha contra os povos do deserto em 1528.
Conta-se que
durante a perseguição Católica, os ciganos queriam se converter porém, a Igreja
os rejeitavam veementemente. Inclusive, a rejeição ao povo era tamanha que a
Igreja/Estado buscou formas de inibir a sua reprodução e disseminação, separando
homens, mulheres e crianças ciganas, encaminhando essas ultimas para famílias católicas
europeias da região. O propósito era acabar com a “raça” cigana definitivamente.
Por outro lado, os muçulmanos que não queriam se converter, eram expulsos ou
mortos. Pela similaridade física, muitos se misturaram aos ciganos (rejeitados
pela igreja e foragidos) e assim podiam viver excluídos e disfarçados nas
regiões montanhosas. Já os muçulmanos convertidos (ou aqueles que se diziam
convertidos), eram chamados de mouros,
tendo que assimilar a religião Católica e seus costumes, abandonando sua
cultura.
Granada
sobreviveu assim : igrejas construídas nos bairros judeus e árabes se
misturando a arquitetura moura, vários andaluzes, árabes e judeus convertidos e
muitos excluídos na região montanhosa. Cenário mais que favorável para o
aparecimento do flamenco na cidade. Por ter sido um reduto de ciganos e árabes,
o flamenco aqui nasceu nas “fiestas das
cuevas” quando se reuniam sorrateiramente à noite para lembrarem, cantarem,
dançarem e lamentarem sua condição de foragidos e excluídos.
Para sentir Granada, não deixe de ....
§ Subir
a “calle” que cotorna Alhambra e o
Rio Darro e descobrir o Bairro de Albaicín, até o mirante San Nicholas
§
Dedicar
um dia inteiro para Alhambra e toda
sua extensão.
Seguindo a “Carrera Del Darro”, contornando Alhambra e descobrindo o Bairro ALBAICÍN
Albaicín é a parte bem antiga de Granada, onde se vive em casas com pátios e jardins e de forte influencia árabe. Para conhecê-lo, sugiro caminhar a pé, apesar de ter que subir ladeiras...essa é a melhor forma de observar os costumes e a arquitetura. A pintura branca das casas com seus vasos de flores de gerânios que enfeitam as varandas e paredes externas, dão um tom visual bem típico de uma Espanha antiga. Suba ate o mirante de San Nicholas e a Igreja. Descanse. Sem pressa, fotografe tudo...ouça algum granadino tocar uma guitarra flamenca e admire a imponência de Alhambra.
Em Albaicin tem a escola Carmen Cuevas, onde pela 1ª. vez fiz aula de
Flamenco e História. Uma comunidade de pessoas de várias nacionalidades e
idades que compartilham dias intensos nas aulas de Espanhol, de Flamenco e
História do Flamenco. Nesse caso, sugiro hospedagem no alojamento da escola
(que oferece excelentes opções de apartamentos e casas) e assim poder desfrutar
o bairro integralmente, pois, não há hotel e pousada por aqui.
Continuando
a caminhada pelo bairro, no silêncio das ladeiras e ruelas, abrem-se praças
rodeadas de cafés e restaurantes que no verão estão sempre lotados de turistas com
aquele burburinho típico. E sempre aparece alguém com um violão flamenco para alegrar
ainda mais...e antes de acabar o dia....ao anoitecer...volte ao Mirante San Nicholas...e descubra o céu
de Granada.
À Noite, não
deixe de conhecer, na Carrera Del Darro
o “Le Chien Andalou”, local típico de shows flamencos e
reduto de artistas famosos da região de Andaluzia.
Viajando nas histórias de ALHAMBRA...
A melhor forma de conhecer
Alhambra é passar o dia inteiro sem
nenhum outro compromisso. Se possível, tenha em mãos “Cuentos de Alhambra” de Washington Irving e entre uma caminhada e uma descansada, leia e
viaje nas suas histórias e lendas que ele escreveu quando morou no Palácio.
Granada foi governada por muito tempo pela
Dinastia Nasrida que fez de Alhambra sua fortaleza/cidade (Medina) com suas
muralhas únicas e imponentes que a separavam da cidade. Ali vivia sua população
dedicada à Medina e todos tinham acesso ao palácio real, mesquitas, escolas,
etc...Já no Império Romano, foi a corte do reino de Granada, e que também servia
de refugio para artistas e intelectuais na época. A arquitetura é a expressão
da arte islâmica com inscrições árabes e arabescos.
Programe essa visita com antecedência
e recomendo comprar os ingressos com antecedência para não enfrentar
fila no dia da visita. Geralmente o passeio dura uma média de 4 horas. Sapatos
e roupas muito confortáveis são essenciais. Aproveite muito os jardins de Alhambra para um picnic, um descanso e
para admirar com a calma necessária toda a extensão da Medina.
Ao sair de Alhambra, contorne a Carrera Del Darro sentido Bairro de Albaicín e presentei-se com
um Hammam, banho árabe típico e renovador. Uma experiência inesquecível.
À noite, descubra a praça de
restaurantes e bares que tem a vista para encosta de “Alhambra” sua muralha iluminada e se permita esquecer a
hora..deixe a madrugada chegar....
SACROMONTE e suas Cuevas…um museu a céu aberto....
Sacromonte está de frente com Alhambra....e suas “cuevas” são típicas
moradias de ciganos que viveram por muito tempo com seus costumes preservados.
Também foi aqui que os muçulmanos e judeus se refugiaram e receberam abrigo
pelo povo cigano e se falava o dialeto “El Calé”, típico da Índia (de onde vieram
ciganos). Um lugar preservado que retrata o modelo de vida dos ciganos e povos que
viveram ali.
Subir Sacromonte requer muita paciência. O caminho é íngreme e cansativo,
mas de uma beleza única. Observe a quantidade de alecrim que cresce
aleatoriamente. O alecrim (chamado de Romero em Espanhol) é conhecido desde a
antiguidade como uma planta para banho, unção e defumação. Para os ciganos, uma
planta de limpeza e proteção. Todo o caminho para Sacromonte é contornado por
Alecrim e seu cheiro exala um perfume
restaurador.
Logo no início da subida, tem muitas
“cuevas” que são restaurantes e oferecem shows de flamenco à noite. Vale uma parada
para buscar informações de horários e o telefone para reserva. Experiência única é ver um show de flamenco,
estilo “Zambra” festa de origem
moura e muito comum entre os ciganos. Recomendo “Venta el Gallo”, que apresenta um show
com artistas locais e tipicamente granadinos, um flamenco mais forte, mais
rústico, mais doloroso e mais “cigano”.
Seguindo e subindo de dia, passando
pelas cuevas, a paisagem começa a se distanciar e quase que se transforma numa
pintura. Aos poucos o museu começa a aparecer. Tudo muito preservado. Logo na
entrada, você recebe uma orientação sobre a organização do local. Desfrute cada
cueva e suas histórias.
Depois de conhecer Sacromonte, certamente,
você entenderá porque Granada é um Oásis, uma visão para puro deleite e prazer
e porque foi cantada com tanto fervor.
Andrea, uma verdadeira aula. Muito bom. Parabéns. Fui a um show de flamenco numa cueva, caminhei ao longo do rio Darro, enfim, vivi momentos inesquecíveis em Granada. Espero voltar um dia, porque adorei a cidade e as pessoas. Abraços.
ResponderExcluirHelmut
Helmut, que delicadeza sua resposta. Muito obrigado. Que bom que você vivenciou muito mais que um passeio turístico,mas um retorno à história...e quiçá...nossas raízes....este ano pretendo voltar à Granada. Não tem um dia que não penso nesta cidade. Abraços!
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