Rio de Janeiro - RJ – para os amantes da história... Circuito da celebração da herança africana
Desafio enorme trazer para o blog um roteiro sobre o Rio de Janeiro, minha cidade Natal. Eu não o conheço com legitimidade para falar. Por isso, convidei minha prima irmã que vive o Rio de verdade e que tem uma paixão avassaladora por história e pela história do Brasil. Então, mantendo meus princípios de “realidade” e “possibilidades” com o blog, faço questão de mostrar o Rio de Janeiro mais que encantador, que ainda vou conhecer, mas que não tem a visibilidade merecida. Será que as pessoas sabem que o Império e seu legado estão na zona norte do Rio de Janeiro? E não estou falando de turismo de gringo em favela pacificada, estou falando da história da Família Real no Brasil, onde tudo começou. É lá,
A descoberta do roteiro
Pelo Facebook, indicado por uma amiga/sobrinha (Rosane Nunes), soube de um guia que estava realizando um passeio guiado pelo Morro da Conceição. Convidei minha irmã Regina e fomos ao encontro do César Matos
(roteirodoporto.blogspot.com/
celular
21-6841 3932),
morador do morro e guia registrado. Antes de começar o
roteiro, ele se apresentou e nos ofertou uma medalhinha de Nossa Senhora da Conceição, um mimo, que apesar de não ser católica,
manterei guardada para sempre. O circuito começa nas escadas que dão acesso ao morro, na Travessa do Liceu. É aqui que fica o Atelier Gaia - Casa de técnicas e Artes que além dos trabalhos expostos, possui cursos
de fotografia e restauro, assim como o Imaculada - Bar e Galeria,
onde se pode saborear delícias, curtir música ao vivo e exposições (onde
terminamos a noite, ao som da Roda de Samba do Sant'Anna. Subindo
a Ladeira João Homem, nos deparamos com os sobrados, mesmo com alguns bem
alterados em sua arquitetura, mas de beleza, simplicidade e encanto... Ali me
dei conta de uma das mais belas vistas, onde pude observar, o interessante e
belíssimo contraste, entre o atual e o antigo na arquitetura da cidade. Alguns desses sobrados são ateliês, como o Atelier Paulo Dallier, um dos mais belos e emocionantes trabalhos que vi. Além
da atenção e espontaneidade desse artista plástico, nos permite o livre acesso
ao atelier que também é sua residência. Destaque para belo visual da Baía de Guanabara e arredores da Praça Mauá em seu terraço. Chegando ao topo do morro, encontramos a Praça Major Valô (ou Praça da Conceição)
que é na verdade, um largo. No centro a figura imponente da imagem de Nossa Senhora da Conceição, padroeira
do lugar. É nesse largo que fica a abandonada e antiga residência, do rico mercador
de escravos, João Homem.
A história do Morro da Conceição
e suas peculiaridades
Seguimos pela Rua do Jogo da Bola, e paramos na pequena capela em homenagem à Nossa Senhora da Conceição,construída no topo do morro, em 1590, pela devota Maria Dantas. Ao final uma pracinha, com uma bela vista, onde o clima interiorano nos faz desejar ainda mais morar por ali. Depois fomos ao Observatório do Valongo, inaugurado em 1924, sede do Departamento de Astronomia da UFRJ. Foi então que, na curva para a entrada do observatório, me deparei com a paisagem onde podia ver o prédio no qual trabalhara por tantos anos e a sala de onde observava aquele local, com tanta curiosidade. Foi meio que um choque. Tudo muito diferente.
E a história
viva, impregnada e com o choro do samba...
Então começou a parte que realmente mais me
emocionaria. Não que nada já visto até aqui, tivesse passado em branco, até
porque acho que detalhei em minhas impressões e emoções. Mas descer as escadarias em direção ao ponto
em que me referi no início do “post”, onde me embevecia só de imaginar aquele
local em sua plenitude, estava sendo muito especial para mim. Eis que chegamos
a parte alta do “Jardim Suspenso do
Valongo”. E eis uma foto, do que eu
costumava ver, e do que estava vendo naquele momento. Claro que é um
trabalho possível, mas da janela do prédio ao fundo, eu nunca imaginei que
veria esse lugar tão lindo! Esse jardim fica, exatamente, em um ponto em que
era feito o mercado de escravos, no século XIX, mas foi inaugurado em 1906, com
o alargamento da Rua do Valongo. Ao lado dele ainda existe um casarão em
ruínas, que foi pintado por Debret, e a praça onde antigamente era realizado o
comércio, sendo extinto oficialmente, em 1831.
No jardim, passeava a nata da sociedade brasileira, e faziam parte desse
jardim, a Casa da Guarda e o Mictório Público. 
Descemos mais uma escadaria, seguindo ao
local que já foi o “Cais do Valongo”,
e também posteriormente chamado, o “Cais
da Imperatriz”. O “Cais do Valongo”,
construído em 1811 para substituir o desembarque e comércio de africanos na
atual Praça XV, região central da cidade. Em 1843, foi remodelado com requinte
para receber a Princesa Teresa Cristina, noiva do futuro Imperador D. Pedro II,
e passou a se chamar “Cais da Imperatriz”.
Com as reformas da cidade no início do século XX, o cais foi aterrado em 1911.
Um século depois, em 2011, as obras de reurbanização do Porto Maravilha
permitiram o resgate do sítio arqueológico, agora monumento preservado e
aberto, para nossa alegria. Do cais seguimos em direção ao “Largo de São Francisco da Prainha”. É
um local de especial importância para a cultura negra carioca e para os amantes do samba e do choro.
Pode ser considerada como o núcleo simbólico da região chamada de Pequena África, que era repleta de casas coletivas ocupadas por negros escravos e forros. Nesse local foi inaugurado em 2009 o “Restaurante Angu do Gomes” o famoso "carioca/aportuguesado angu" do Rio de Janeiro, desde a década de 50, quando várias barraquinhas se espalhavam pelas praças da cidade e viraram um ícone da noite e da boemia.
Ali se localiza a famosa “Pedra do Sal”, onde se reuniam, no séc.
XX grandes sambistas do passado, como Donga e Pixinguinha. A "Pedra do Sal" possui esse nome, porque era
descarregado na rocha por
africanos escravizados no século XVII. Os degraus foram esculpidos para
facilitar o trabalho de subir na pedra lisa. A partir da segunda metade do
século XIX, estivadores se reuniam no local para cantar e dançar. Dali,
os moradores saudavam os navios que chegavam da Bahia com familiares e amigos.
A Pedra do Sal era, para migrantes,
o que é hoje o cristo Redentor para os recém-chegados ao Rio: o
primeiro abraço e o primeiro sentimento da cidade. Os moradores e seus
migrantes eram predominantemente negros baianos retornados da Guerra do Paraguai ou em busca de melhores condições de
vida. Lá, se encontraram as célebres tia, pretas forras e suas
"pensões", onde o batuque e o jongo se transformaram em partido alto. Os negros e suas tias participaram
dos principais eventos da cidade como a Abolição, a Revolta da Armada, as greves, a Revolta da
Chibata e outros. A Pedra do Sal
é um monumento religioso do povo carioca. Na virada do século era cheia
de templos afro-brasileiros, e se faziam despachos e oferendas. Na Pedra do Sal,
surgiram os primeiros ranchos carnavalescos, afoxés e rodas de samba. E em quem
eu e minha irmã pensamos logo? Nosso pai, Waldemar, funcionário do porto e que
provavelmente passou muitos plantões curtindo um samba naquele local. Hoje
podemos curtir várias rodas de samba no local, tanto na Pedra do Sal, como no Largo da Prainha. Durante o período de
carnaval desfila o “Bloco Escravos da Mauá”,
criado em 1993.
De lá seguimos para a Igreja
São Francisco da Prainha. O mar chegava quase até a orla do Morro da Conceição, com uma extensa,
mas estreita, faixa de areia, onde os pescadores amarravam as suas embarcações,
daí o nome de Prainha. A igreja começou a ser construída em 1696, mas apenas em
1738, a
capela achava-se inteiramente pronta. Do lado de fora tem estilo
barroco, os cantos são de pedra e seu interior é de estilo gótico. Estava
chegando ao fim nosso passeio guiado, ainda nos restando uma passada na
portaria do primeiro arranha-céu da América Latina, inaugurado em 1930, o “Edifício A Noite”, que abrigou o jornal "A Noite" e hoje é
reconhecido por ser sede da Rádio Nacional, aquela da "Era do Rádio" . Dentro deste circuito ainda
existem dois lugares que devem ser visitados, como o “Centro Cultural José Bonifácio” que foi o primeiro colégio público
da América Latina, cujo palacete fica na Rua Pedro Ernesto nº 80, na Gamboa, é
um centro de referência da cultura afro-brasileira. E na Rua Pedro Ernesto nº 32, o “Instituto
Pretos Novos (IPN)”, o maior cemitério de escravos das Américas.
Deixo aqui um convite, não apenas para os turistas
de fora da cidade do Rio de Janeiro e de outros países, mas aos moradores, que
não conhecem essas maravilhas, que visitem esse pequeno paraíso com cara de
interior e seus arredores com toda a história da cultura africana no Brasil.
Aproveite os passeios guiados, como esse que fiz com minha irmã. E curta um
pouco dessa parte da cidade do Rio de Janeiro, que costumava ficar de fora dos roteiros
turísticos. Quem sabe, como eu, ir brincar em um “Bloco de Sujo”, em pleno Morro da
Conceição, no carnaval...
Inspirar é isso. Descobrir no seu mundo e no seu
espaço a riqueza de uma paixão e a nostalgia de raízes...belíssimo exemplo de
cultura e ânsia pelas pequenas coisas da vida...obrigado prima irmã...meus
poucos anos no Rio (nasci no Rio, mas saí de lá em 1978) me deixou essa vontade
louca de desbravar minha história....
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirShow!!! O Post ficou 1.000 e o Morro da Conceição é realmente lindo e impressionante!! Adorarei ir junto com vocês no próximo passeio, com direito a uma parada no Imaculada pra sambar um pouco!!
ResponderExcluirP.S: Mami ficou lininha nas fotos, toda boba!! rsrsrs...
Bjks!! Helô.
Um verdadeiro tour sem sair de casa!!! Lendo este post vi que o Bar Imaculada (única parte que eu conheço do Morro) é só um pedacinho da imensidão de histórias que há nesse lugar. Por isso,ao terminar de ler dá vontade de desbravar o Morro da Conceição e conhecer todos os cantinhos que você narrou aqui. Parabéns, tia Márcia, você arrasou!!!
ResponderExcluirBjo!!! Gabi.
Como disse a Gabi, é um tour sem sair de casa! Viajei!
ResponderExcluirE que texto lindo, dá p/ sentir toda a emoção, muitíssimo bem escrito! Parabéns!
Um honra ver meu humilde nome citado lá em cima, hehe. Uma dica de nada, deu origem a isso, que bom!
Um beijão... vou divulgar!
Ai prima, esse relato não chega aos pés de um passeio pelo local. É só uma mostra do quanto o Rio de Janeiro esconde em suas entranhas. Lugares maravilhosos, onde podemos sentir vários prazeres... E aos visitantes e moradores: essa cidade os recebe de braços apertos, prontos para os embalar em um grande abraço!!!!
ResponderExcluirSou Fernando Luiz Faria, amigo virtual de Marcia Almeida, e quero parabeniza-la pela a viagem através das palavras... me fizeste subir o Morro e descer varias vezes... Mas acredito eu que falta algo... Algo como a citação feita por La Faust... sobre a vida no morro... e principalmente no Morro da Conceição... Pois foi específica para este Morro, mas cabe em tantos outros...
ResponderExcluirParabéns pela descrição "roteristica". Muito Boa...
Pense em transformar esse roteiro em um curta de Animação... Pense depois Retorne, que sabe podemos virar parceiros...
Oi Fernando! Que bom que você gostou, mas o mérito é todo da Marcia. O texto foi escrito por ela. Eu abri esse canal porque acredito muito na forma como pessoas são apaixonadas pela história...e pela nossa história. Eu acho que a Marcia topa fazer um curta...eu tbm. Me passa teus contatos para falarmos mais sobre isso? E se vc. observou...tenho muitos textos com história de flamenco..rsrsrs...que tem uma proximidade bem peculiar com a nossa história...rsrsrs...mais isso é uma outra conversa....bj
ResponderExcluirMinha família está na última casa da Jogo da Bola desde o século 19. Não fui criado alí, mas sempre que vou, sinto uma sensação estranho de estar em casa, mas numa casa que não conheço. Raízes.
ResponderExcluir