segunda-feira, 26 de agosto de 2013

PARIS – A cidade luz, a cidade mulher....

Não é fácil simplificar momentos especiais em tão poucas linhas, sem ser repetitiva e clichê, quando muitos estiveram lá e escreveram sobre ela.  Meu desejo era conhecê-la como ela merecia, mas, confesso, voltei com uma sensação de não ter feito 10% do que me propus. Vou explicar.
Cada um que lá esteve, cumpriu um roteiro e teve experiências muito pessoais. A cidade luz oferece uma variedade de opções que levam a descobertas sob muitos ângulos e várias perspectivas. Impossível Paris ser a mesma para 2 pessoas, mesmo que elas tenham estado lá no mesmo momento. Ela nos abraça intensamente, abrindo suas janelas do passado por qualquer caminho que se percorra e sempre com uma paisagem digna dos grandes impressionistas...Paris  nos leva a sonhar. E como muitos dizem por aí... uma cidade para ser visitada a vida inteira... A minha experiência veio carregada de grandes mulheres da história. Me acompanhou durante a estadia na cidade luz, na cidade mulher,  a maravilhosa biografia de Maria Antonieta do Stefan Zweig. Sempre tive curiosidade sobre a rainha que teve sua vida explorada e devastada em muitas versões sobre sua personalidade e seu comportamento frívolo e surreal que confrontou uma nação inteira. Ela entrou na França adorada e morreu repudiada, mas ainda hoje sua história é viva na França.  Luis XVI, um rei ausente e de pouca vontade (ou caráter?) e com grandes dificuldades em opinar, decide casar-se (por alianças políticas) com uma menina (da linhagem austríaca) que se transforma numa mulher oposta ao que ele representava: decidida, criativa, altiva, convicta, mas, sobretudo, ingênua e vazia que desfrutava da vida num mundo à parte, em Versalhes. Quando então, de uma forma dura e não tão digna ela é obrigada a migrar para Paris carregada pelas mãos da revolução. Transforma-se e se descobre “Rainha”, entendendo o que deveria ter sido seu papel na história. Tarde demais. As lendas sobre sua pessoa são maiores que a própria, tornando-a refém de seu passado. Uma rainha que tentou usar seu poder quando tinha perdido o reino. E, mesmo na pobreza, na falta de luxo e de poder, exaltava e exalava nobreza.  Luis XVI foi decapitado para dar lugar à Revolução. Mas o maior símbolo da monarquia era Maria Antonieta. Era fundamental que ela desaparecesse. Foi decapitada porque sua simples existência inviabilizava a revolução. O símbolo era maior que a liberdade. Tornou-se parte da cultura da França e uma figura histórica refletida em cada pedaço de Paris: luxo, cores, beleza, força, alegria e nobreza.  Seus momentos finais, já em Paris, me impressionaram. Então, passar no “Jardin des Tuileries”, reviver seus encontros secretos com o grande amor de sua vida, conhecer e passear pela Place de la Concorde e saber que ali ela foi decapitada, era percorrer esse pedaço da história junto dela, em direção à liberdade. No final de sua vida, entrega-se a esse amor impossível e sua cabeça é oferecida ao povo como uma vitória que duraria tão pouco tempo no seio de uma revolução, contaminada por intrigas e fragilidade do poder...mas Paris manteve-se nobre....
Chegamos à Paris...

O Hotel France Eiffel é muito parisiense. Simples, estilizado, localização ótima e numa zona residencial bastante agradável. Fica a 5 minutos da Torre Eiffel e bem pertinho da estação de metrô Bir Hakeim. Essa estação merece uma pequena explicação: ela fica no 15º. arrondissement onde, em julho de 1942, foi realizado o maior ataque contra os judeus na França, conhecido como Rafle du vel d’hiv ( Velódromo de inverno – Vel d’hiv).  No Velódromo os judeus ficaram retidos antes de serem enviados aos campos de concentração, passando fome, frio e terror. Uma barbaridade que ninguém esquece. O local foi demolido em 1959, mas a estação de Bir Hakeim mantém na sua plataforma um painel em memória ao Vel d'Hiv e homenageia aqueles que foram massacrados. E cada estação de Paris tem uma história, como se passado e presente convivessem ao mesmo tempo. Foi assim que eu e Ana Sofia decidimos seguir Paris: tínhamos apenas 5 dias para explorá-la e o metrô era nosso maior aliado....então seguimos a viagem, de metrô, olhando as janelas por onde passávamos.....

Janelas de Paris...
Na 1ª. tarde/noite, aproveitando a proximidade do hotel, seguimos para a Torre Eiffel, símbolo de Paris e que já foi cenário para vários filmes românticos. Imponente, tem uma vista peculiar: verão, turistas, cores e muita juventude, sempre abarrotada de apaixonados. Seguimos para o Trocadero, construído no alto da colina Chaillot, que fica de frente para a Torre Eiffel. Vista privilegiada e uma bela recepção da cidade. Jantamos no Le Malakoff (Place du Trocadero) onde experimentei uma “quiche de presunto e queijo com vin rosé” espetaculares!!!! Inclusive, essa foi eleita a bebida de Paris: vin rosé, extremamente refrescante e chique! E com o calor que fazia, caía muito bem no paladar.  Caminhamos para a chiquérrima Champs Élisées que dispensa comentários, né?
Fechamos a noite no Arco do Triunfo, construído em comemoração às vitórias de Napoleão Bonaparte. Na base, tem o tumulo do soldado desconhecido de 1920.  No 2º. dia programamos chegar à Notre Dame! Claro que, aproveitando tudo o que tinha pelo caminho. Pegamos o metrô até Montparnasse e descemos a Rue de Reinnes onde há grande concentração de lojas maravilhosas (Sephora, Kiko, FNAC, Mango, Zara , etc), além de um aglomerado de farmácias cheias de coisas interessantes. Passamos pela Sta. Sulpice e descansamos no Café de Flore (Boulevard St. German)  um dos mais tradicionais cafe-brasserie de Paris. Conta-se que lá se reuniam grandes pensadores entre eles, o casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.... Mas a meta era Notre Dame... conseguimos chegar já à tarde na catedral gótica, uma das mais antigas da França, de 1163 (seu nome significa Nossa Senhora). Fiquei admirando esse pedaço poético de história que inspirou Vitor Hugo a escrever (1831) o romance O corcunda de Notre Dame . Quem não se lembra daquele cenário onde o corcunda se apaixona pela cigana Esmeralda? Bem, como falei do início sobre as mulheres de Paris, foi em Notre Dame  que Joana d’Arc foi beatificada, em 1909. É a Santa padroeira da França e sua história nos diz que lutou como chefe militar na Guerra dos Cem Anos e foi queimada viva em 1431. Mártir e heroína, convertida em Santa!  Ai..ai....depois de muitas fotos, seguimos pela Ilê St. Louis/Rue St.Louis dedicando um tempo para apenas apreciar o caminho. Parada obrigatória para conhecer o famoso Sorvete Berthillon e eis que, de uma surpresa, me deparo pela 2ª. vez na vida (a 1ª. foi quando estive em Paris pela 1ª. vez e depois de ver o filme), com a casa que supostamente morou Abelardo e Heloisa....cujo romance começou em Paris no início do séc. XII :

“Abelardo, filósofo, teólogo, grande lógico e professor na Catedral de Notre Dame se apaixona por uma de suas estudantes, Heloísa,16 anos, cheia de vida, inteligente, curiosa e estudiosa. O relacionamento deles é descoberto por Fulbert, tio e tutor de Heloísa, que tenta de muitas formas por um fim nesse romance. Abelardo e Heloísa se casam em segredo e tiveram um filho chamado Astrolábio. O tio de Heloísa, revoltado, trama a terrível vingança : ataca-o enquanto dormia , castrando-o. Após a castração, Abelardo tornou-se monge e Heloísa torna-se abadessa no convento de Argenteuil. Abelardo e Heloísa nunca mais se falaram e atenuavam a dor que sentiam pela falta um do outro, dedicando-se exclusivamente ao trabalho. Abelardo construiu uma escola-mosteiro ao lado da escola-convento de Heloísa. Viam-se diariamente, sem nunca trocarem uma palavra, mas trocavam cartas apaixonadas. Abelardo morreu em 1142, com 63 anos. Heloísa ergueu um grande sepulcro em sua homenagem e faleceu algum tempo depois, sepultada ao lado de Abelardo. Conta-se que, ao abrirem a sepultura de Abelardo para colocarem Heloisa, encontraram seu corpo intacto e de braços abertos, como se estivesse aguardando a chegada da amada. E o filme que me emocionou tanto e me fez procurar pela casa na 1ª. vez que estive em Paris, chama-se “Em Nome de Deus”, de 1988, baseado nestes fatos reais. "Perdoe-nos Pai, por termos amado". Se é verdade ou não, não sei ....mas encontrar a casa deles (pela 2ª. Vez) e ainda rememorar outra mulher da França que passou por muitas dificuldades e encontrou sua liberdade depois da morte...isso foi mais que especial....



No 3º. dia começamos por Montmartre, Sacré Couer e Praça de Tertre. Para mim, Montmartre tem um charme muito especial por ter sido um bairro boêmio e ponto de encontro de artistas e intelectuais. Uma delícia entrar nesse mundo tão diferente e chegar à Sacré Coeur. A Basílica, inspirada na arquitetura romana e bizantina, fica na parte mais alta e contornando-a, chegamos à famosa "Place du Tertre" , bem no centro do antigo vilarejo. É pitoresco e rejuvenescedor ver artistas expondo e pintando, enquanto as pessoas tornam-se paisagem sentadas nos cafés que contornam a praça. Recomendo demais o Café La Mère Catherine”, fundado em 1793, reconhecido como o primeiro bistrô de Paris. Atendimento nota 10 e a comida, um prazer à parte. A tarde quente convidava à permanência nos cafés, mas tínhamos pouco tempo, então nos enchemos de coragem e seguimos ao Musée d’Orsay. Impossível visitar tudo numa tarde, então elegi o térreo onde para ver as esculturas de Rodin e a ala dos Impressionistas (Renoir, Manet, Monet, Van Gogh, Degas, etc....).



Só o edifício já é uma obra de arte à parte, pois fica numa antiga estação ferroviária - Gare de Orsay, transformada em Museu em 1977. De volta ao metrô, seguimos para a Iglesie Madeleine cuja impressionante arquitetura lembra muito um templo grego. É consagrada à Santa Maria Madalena, que muitos dizem que teria fugido para França após a crucificação. Os detalhes e as dimensões da porta de bronze e as imagens de santos e anjos são impressionantes. Já entardecendo aproveitamos para “passar” nas lojas de desejos (Printemps   e Galeries Lafayette), visitamos e compramos chás na Mariage Fréres. Fechamos  a noite em grande estilo e em comemoração ao nosso aniversário: jantamos no restaurante L’Opera no Palais Garnier .
E a maratona Paris chegava à reta final: no 4º. dia, segui para o Louvre, com o coração apertado por falta de mais tempo e visitei ala pré-islâmica, islâmica e fui rever a Grécia, Egito e Roma antigos. Fiz o caminho do Jardin des Tuileries, o jardim mais antigo publico de Paris, admirando a história de Maria Antonieta, até chegar à famosa pirâmide para entrar no Museu. No clima de despedida, segui para a Place de la Concorde e Champs Elisée. 
A Praça de la Concorde impressiona pela sua dimensão e só pessoalmente a gente entende o que os livros de história retratam: nesse espaço ocorreram grandes acontecimentos históricos. Essa praça era o ponto de passagem dos cortejos, depois foi local das reuniões contra a monarquia e logo em seguida, onde a guilhotina foi instalada. Muitos fantasmas e muito sangue derramado: Luis XVI , Maria Antonieta, Philippe de Orléans, Condessa du Barry e até mesmo o revolucuonário Robespierre...... A noite caía e calmamente fiz caminho de volta pensando no privilégio de estar ali e fazer de Paris um pedaço de minha historia.Ultimo dia, malas prontas e tínhamos um pedaço de tempo, pois nosso trem para Madrid partia às 16hs.

Decidimos ir à Igreja da Medalha Milagrosa, que por sinal, cuidado!!! sua localização é tão discreta que pode-se passar por ela sem encontrá-la. A história da medalha (1830) é a história da Irmã Catarina, jovem noviça das Filhas da Caridade que recebe mensagens da Virgem Maria, revelando sua identidade através da medalha, destinada a todos sem distinção! Visitar essa igreja escondida no meio de Paris causou-me um bem-estar gratificante. As irmãs são de uma simpatia ímpar e a energia da capela me tocou. Então saí de lá com mais uma mulher na história de Paris que me encantou!
E assim, Paris aconteceu para mim. A cidade luz, as janelas das histórias de Maria Antonieta, Joana D’Arc, Heloísa e Catarina me levaram a definir a minha Paris como eu defino uma mulher: sabe o que é, sabe o que quer, sabe o que pode causar nas pessoas.... é sutil e forte, aberta e misteriosa e está sempre pronta.

Programação e Tempo
 Não dá para fazer tour nos principais monumentos e flanar pela cidade sem compromisso com tão pouco tempo. Tentamos fazer isso, mas ficamos exaustas. Minha recomendação é: ou se compromete com os monumentos ou descobre Paris descompromissadamente....Outra coisa: a hospedagem é fundamental para quem quer fazer compras, pois você poderá ter que voltar ao hotel algumas vezes para deixar pacotes. Quanto mais perto da região de compras, melhor. E, não misture compras com visitas a monumentos. Separe e organize os dias para que você possa fazer tudo com prazer e sem dor!

A receptividade dos parisienses com o turista
Muito interessante o esforço do parisiense em ajudar (em alguns locais) e trabalhar para o turista. A fama de Paris é de que o turista é mal tratado. Eu vi isso em alguns casos e foram pontuais. Mas a barreira cultural encravada na personalidade do francês fica nítida pelo desconforto que ele demonstra ao ter que atender e servir asiáticos ou sul-americanos. Essa foi para mim, uma comprovação da mudança de dinâmica de poder mundial, onde países emergentes estão assumindo papeis mais importantes no mundo e se fazem presentes!
Mulheres....

As mulheres são um capitulo a parte. Uma elegância que se destaca no inverno, mas no verão, se superam em criatividade e descompromisso com as regras. Enquanto no Brasil as mulheres estão preocupadas em se cuidar para mostrar pernas e corpo, sempre tentando ser igual alguém na TV, em Paris (ou Europa!!!) o estilo é pessoal e intransferível.  Elas eram coloridas e nada combinando! Sem regras, mas com bom gosto. A relação delas com cabelo é indecifrável. Cabelos lisos e mechados????? Esquece...os cabelos delas tem personalidade, são naturais, arrumados bagunçados, cores diversas, tamanhos variados...enfim...os cabelos são parte de suas personalidades. Certamente, ditarão a moda por aqui. Estilo! Liberdade de ser e estar. Descompressão total. São femininas e charmosas com muito menos produção. São únicas. A despeito da cultura onde há um “que” de superioridade, essas mulheres de qualquer local, olham para frente e tem uma aura de nobreza... o que vi enquanto degustava meu vin rosé : mulheres seguindo em frente!

e essa viagem eu dedico à minha mãe, que provavelmente nunca conhecerá Paris, mas que sempre me ensinou ser nobre e seguir em frente!

Um comentário:

  1. Parabéns, fico feliz com todas as informações e dicas contidas no seu blog. Feliz também por saber que você cada viagem que faz realiza mais seus sonhos, que são merecidos. È verdade até o momento não vejo nenhuma possibilidades de conhecer mais você sabe os motivos.kkkkkk Parabéns obrigada por você existir.

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Agradeço seu comentário. Andrea Pires

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Andrea Pires

Com Salto&Asas é um lugar de verdade, onde compartilho as memórias das viagens que mudaram minha vida e que me transformam diariamente. Sonhar, Planejar e Realizar, o melhor caminho para ter o Mundo nas Mãos! comsaltoeasas@gmail.com

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