PIPA – RN – parar para recomeçar.
Depois
de um 2014 intenso e cheio de mudanças muito bem-vindas, me deparei com um
dilema do que fazer para começar 2015 com mais calma. Muitos
projetos de viagens, mas meu corpo e mente pediam parar e reduzir a velocidade
do dia-a-dia e rever essa intensidade
que tanto me rodeia.
Pipa foi o caminho bem
despretensioso. Queria muito um lugar calmo, desconectado da correria e com
mais simplicidade. E que surpresa.
A escolha do local teve
um fundamento: eu e uma amiga-irmã Beth, amizade de mais de 30 anos, tínhamos
nos prometido uma viagem juntas há muito tempo atrás.
Seguimos para Pipa!
Localizada cerca de 90
km de Natal/RN, pertence ao município de Tibau do Sul, um paraíso perdido com
uma riqueza de falésias, manguezais, mata atlântica, dunas e rios. Tibau
significa entre duas águas: Lagoa Guaraíras e o Oceano Atlântico. Sugestivo,
considerando que sou fã incondicional de Paco de Lucia que compôs “entre dos
aguas” em homenagem à sua cidade na Espanha. Pipa fica há 7 km de Tibau do Sul
e foi uma antiga aldeia de pescadores e reduto dos surfistas.
Coincidência mística ou
não, o padroeiro de Pipa é São Sebastião, Orixá Oxóssi na Umbanda/Candomblé,
que representa o orixá da caça, florestas, dos animais, da contemplação, amante
das artes e das coisas belas. Oxóssi é avontade de cantar, de escrever, de
pintar, de esculpir, de dançar, de plantar,de colher, de caçar, de viver com
dinamismo e otimismo. Curiosamente também é a comodidade, a vontade de admirar,
de contemplar. Oxóssi é um pouco de preguiça,a vontade de nada fazer, senão
pensar e, quem sabe, criar . Chegar lá já é um caminho de desligamento. Tudo
muito rustico e a natureza transborda pela estrada. A distancia e o acesso contribuiu muito para
essa calmaria e contemplação esperadas. Em Pipa há de se ter muita calma e se
deliciar com as manifestações artísticas encontradas ao longo do caminho. A
Pousada escolhida - Magia da Terra - foi uma pesquisa intensa no booking. Assim
que chegamos, uma constatação: Pipa está quase que totalmente ocupada pelos
argentinos que buscam exatamente o que eu fui procurar: natureza e descanso. Eu
diria que Pipa está sendo recolonizada pelos “hermanos” que já são
trabalhadores locais e turistas. Muitos chegam para passar férias e ficam
morando “um tempo”. A Pousada é bem
localizada, mas não recomendo ir de carro. O acesso é muito complicado. A Rua
dos Bem-te-vis é uma ruela acessada pela principal Baía dos Golfinhos, onde se
concentra todo o burburinho de Pipa. São chalés incrustados num jardim que dão
muita privacidade e ar-condicionado, mas sem nenhum luxo, entretanto,
ar-condicionado não é luxo em Pipa porque o calor é surreal . O café da manhã é
muito simples e adequado para quem vai passar o dia inteiro nas praias. As
pessoas da pousada (maior parte argentinos) muito amáveis e sempre disponíveis
a ajudar desbravar Pipa.
As praias são
mais do que se espera! As falésias contornando toda a extensão dificultam a
invasão de barracas e ônibus de turismo, mas ficam centralizados no ponto de
acesso : Praia do Centro. Esse é um ponto excelente de parada para comer e
esperar o sol baixar antes de seguir para a vila ou pousada, depois de longas
caminhadas ou passeios de barco. A partir da praia do centro pode-se seguir
caminhando na direção da Baía dos Golfinhos e Praia do Madeiro ou no lado
oposto, a Praia do Amor. É nessa direção que avistamos o Chapadão, onde tem a
pedra PIPA que ficou assim conhecida porque as embarcações portuguesas e
holandesas chegavam às proximidades e identificavam uma pedra que aparenta uma
PIPA (ou um BARRIL de armazenamento de bebidas), assim eles sabiam onde estavam
chegando. Nessa questão geográfica, muito atenção: Há de se ter em mãos a tábua
das marés para seguir caminhando, pois se a maré tiver alta, há possibilidade
de ficar ilhado. Muito engraçado para nós que queríamos conhecer toda a
imensidão de praia que avistamos num único dia. Então eu desejei desacelerar e
fiquei "de cara" com essa dádiva que eu não sabia como vivenciar.
Como assim? Esperar maré baixar? Esperar?
E então percebemos o
quanto estamos contaminados com velocidade e rotinas da cidade.
Sempre controlando
horários e fazendo mil coisas planejadas, correndo contra o tempo e em Pipa
estava com tempo de sobra e não tinha nada o que fazer, além de contemplar e
esperar....nos 2 primeiros dias eu e Beth levamos um susto: às 11 da manhã já
tínhamos nos fartado de café da manhã, corridinha básica, solzinho saudável,
agua de coco e? Para que tanta pressa? O tempo nos castigava. Mas, considerando
que São Sebastião/Oxóssi toma conta do lugar e das pessoas que lá estão, só
restava me curvar a natureza e deixar a tábua das marés trabalhar e controlar
minha ansiedade de fazer muita coisa ao mesmo tempo. E vieram as reflexões
naturais né? Dá para viver com menos velocidade e mais contemplação? E olha que
a natureza não negocia. Tem que esperar.
A Baía dos Golfinhos tivemos 2
perspectivas: fomos caminhando e desfrutamos da imensidão das falésias e dos
poucos caminhantes que encontrávamos (na maré baixa, claro). Um local muito
peculiar para banhos demorados e meditação. E também fizemos o passeio de barco para
ver o golfinhos. Um passeio que recomendo pela graça dos
bichinhos pulando daqui e lá. O passeio é de cerca de 1 hora e com parada para banhos.
A Praia do Amor fizemos a pé e
descobrimos que é o point dos surfistas e do pessoal mais alternativo pois o
acesso requer muito cuidado na descida pela falésia. Tem uma estrutura de
guarda-sol que permite ficar o dia inteiro. E porque se chama Praia do Amor?
Porque as ondas quando se quebram, formam um coração...
Uma opção fantástica é o
passeio de Jipe que dura o dia inteiro. Começa com a parada no Chapadão. Um
lugar de onde se tem a visão do todo e da pedra que parece uma Pipa. Nunca fui
à marte, mas me pareceu assim: pedras enormes avermelhadas, grandes chatôs que
desembocam no mar.
Do Chapadão seguimos para Sibaúna, região do antigo quilombo de onde
cruzamos de balsa a Barra do Cunhaú para
uma praia aconchegante e de descanso. Ali tem que preguiçar mesmo. E preguiçar
cansa né gente? O guia segue para um restaurante típico Camarão na Fazenda que oferece um peixe assado maravilhoso. É nessa
hora que esperamos o sol baixar nas redes que nos esperam num local bem fresco.
Seguimos
para as dunas e os mais corajosos fazem o SKIBUNDA. Fiz 2 vezes. Desisti.
Descer é legal, mas subir para descer novamente é um castigo.
Já no final do dia o
guia nos leva para as margens da Lagoa Guaraíras para contemplação do
pôr-do-sol. Muitos turistas e muita alegria. Cansaço ao extremo, hora de
voltar. Os guias tem um carinho especial pelo trabalho. Todos se conhecem e
rapidamente fazem amizades para nos deixar bem à vontade. Legal também é que
são grupos pequenos e permite uma integração bem rápida. Utilizamos o Pau de
Arara Tour que utiliza guia local.
Além das praias, as
noites em Pipa são para quem tem fôlego!As opções
gastronômicas são padrão internacional com preços nacionais (mas não vai durar
muito tempo essa vantagem). Na Rua Baía dos Golfinhos, tem uma infinidade de
opções. Conhecemos o Maloka Bar, que
tem uma tapioca maravilhosa, todos os dias era ponto obrigatório o Sorvete Artesanal Real 14 , o Tapas com o melhor mojito que bebi e um
jantar degustação. Na praia do centro, ficamos freguesas do Caxangá no final do dia para um peixe
assado e descobrimos no caminho de volta da Praia do Amor o Tal do Escondidinho ...seguramente...contemplar e comer é
coisa certa a fazer em Pipa.
E
sempre tem as pérolas né? Manchas em Movimento, o atelier do Jorge merece uma visita. E se ele estiver
por lá, vixe...a conversa rende. Um pintor carioca que se encantou com Pipa e
que agora é nativo!
E Pipa foi assim: sem
muita história e com mais relaxamento. Sem compromisso de retratar e registrar,
mas sim o de viver e sentir. Eu e Beth colocamos a conversa em dia de mais de
30 anos, idas, vindas, amores, desamores, filhos, trabalho, experiências de
engrandecimento espiritual...saímos venerando e agradecendo a Oxóssi pela
oportunidade de parar e contemplar!
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Agradeço seu comentário. Andrea Pires