PERU e MACHU PICCHU – Quanto mais longe de casa, mais se aprende!
O Peru é para caminhar, experimentar, ouvir e sentir a
energia que emana de Cusco e toda a região que foi um Império à frente do seu
tempo e que vem sendo redescoberto pelo mundo. Ouvi de vários nativos que foi
importante a conquista espanhola, mesmo na tentativa de destruição do Império
Inca (o que não ocorreu de fato), porque no futuro, seriam redescobertos e
valorizados.
O que me faria voltar
várias vezes foi descobrir um povo que acolhe com sua bondade e felicidade,
respeitando e valorizando as forças da natureza e reverenciando a mãe terra, Pachamama: - que lhes dá o sustento de
vida. O sorriso estampa em todos os lugares, a leveza de alma é o que melhor o
define. Um povo tão esperançoso e cheio de gratidão pelo que a terra
proporciona de sustento, pelas forças da natureza e pela sua história.
Como falar do Peru sem
falar da história dos Incas, dos espanhóis, da religião politeísta naturalista,
arquitetura, matemática...enfim...decidi escrever o que vi, pois a história
está mais do que contada e recontada. Compartilho não meus conhecimentos, mas meus
olhos, com a certeza da generosidade que vi lá.
O Peru é famoso pelo Império
Inca (filhos do sol), considerado o maior Estado da América pré-colombiana,
resultado da conquista de várias civilizações andinas no séc. XIII. Apesar da
sua hegemonia e inovações, foi um Império de vida curta (cerca de 100 anos),
onde se estendia pelo Equador, Bolívia, Argentina, Chile e Colômbia. A
administração central era em Cusco (em quíchua, "Umbigo do Mundo"). Nesses
100 anos, atribui-se aos Incas grande desenvolvimento e descobertas na irrigação,
agricultura, arquitetura e construção, astronomia e matemática. Tudo era
compartilhado e servido à população que produzia e trabalhava para aprimorar
cada vez mais esse modelo social. Um exemplo de socialismo ideal, à luz da religião
politeísta, identificada pela dualidade: bem e mal, claro e escuro, luz e
sombra...ou seja...a busca do equilíbrio entre as forças criadoras.
Ouvi de alguns nativos que
a conquista espanhola não foi resistida pelos Incas num primeiro momento.
Pizarro já tinha tido contato com os Incas em 1526. Eles contam que os Incas
esperavam o grande Deus (trovão) chegar por mar. Quando Pizarro e
conquistadores chegaram com seus canhões, supõe-se que teriam sido recebidos
como deuses, porém, ao longo da conquista espanhola, o Império Inca percebeu
que estava sendo dizimado e explorado e a guerra era inevitável. Não havia ouro
e prata que satisfizesse a Espanha. Em 1532 Pizarro derrotou e capturou o
ultimo imperador inca Atahualpa. Exigiu
ouro e prata em troca da libertação e, mesmo tendo recebido a recompensa, Atahualpa foi executado e Pizarro conquistou
definitivamente o império, estabelecendo o domínio Espanhol e a igreja católica
como religião oficial.
A
Lima que conheci é lindamente cinza
Encantadora e cinza. O
Centro Histórico é onde se concentra o maior acervo da colonização espanhola. O
ponto de partida é a Praça das Armas e a Catedral, cuja inspiração é na
Catedral de Sevilha, rapidamente percebida pelos azulejos mouros. O Convento de
Santo Domingo e Santa Rosa é onde estão expostos pertences e história de mártires,
como por exemplo, São Martim de Porres, um religioso, enfermeiro e santo peruano que se
dedicou a caridade. E ali pertinho, a Igreja de São Francisco. A história da
conquista espanhola se repete: a catedral, o governo e a praça. Miraflores é muito agradável, ideal
para hospedagem porque fica longe do caos do centro histórico e do transito (que
me assustou muito), pois é caótico mesmo no sábado, não há como fugir. Apesar dos ares de grande cidade super
populosa, não me senti insegura e tão pouco vi violência urbana.
Já Miraflores é um bairro calmo e
cosmopolita. Além do shopping Larcomar,
que fica à beira do pacífico com restaurantes maravilhosos, há uma ciclovia onde,
caminhando, chega-se ao Parque do Amor com as esculturas e monumentos que muito
lembram Gaudi. A Calle Larco merece uma manhã inteira de
exploração e compras no centro de artesanato. Lima me conquistou pela gastronomia:
Ceviche e Pisco, que só de lembrar, a boca saliva. Uma sugestão de quem vai
pela 1ª. vez: O tour com o ônibus aberto é muito bom e vai até Barranco (bairro
boêmio e intelectual). Contrate um transfer/receptivo do aeroporto ao hotel e
hotel para aeroporto (não é luxo, é necessário) para não sofrer o stress dos
taxis (o valor tem que ser negociado na hora).
Cusco
3400 metros de altitude e é azul!
A aterrisagem em Cusco é
lindíssima e dá medo. Senti a diferença de altitude
imediatamente. Muito sono, cansaço e recomendo no 1º. dia comer algo leve
para se acostumar. Os hotéis carinhosamente recebem o turista com chá de coca e
muita simpatia. O centro de Cusco é um museu inca e espanhol a céu aberto. Percebe-se a influência da igreja Católica por onde os espanhóis passaram, mas
não conseguiram descaracterizar a cultura Inca. O mercado de São Pedro é uma atração imperdível.
Lá
a gente tem contato imediato com a gastronomia e cultura local: Cuy (porco da
índia que é assado num espeto) é bem popular, o Choclo com queso tem que ser
provado e a inka cola faz muito sucesso. E o ceviche continua no topo da lista.
Cusco tinha o desenho de
um puma deitado que representava ser o guardião das coisas terrenas. E a cada
ponto desse puma era uma local sagrado, onde hoje são sítios arqueológicos.
Esses pontos são muito parecidos com os pontos dos chacras. Koricancha (genitais do puma) foi onde os
espanhóis construíram o convento dominicano Santo Domingo. Era todo fechado de
ouro que obviamente foi saqueado. Hoje é um desses sítios arqueológicos. Lá se
rendia homenagem ao maior deus inca o "Inti" (o sol).
Sacsayhuamán (cabeça do puma) é outro
sítio onde se realiza a festa de 24 de junho, no solstício de inverno, o ritual
de culto ao deus sol ou Inti.
Com a conquista
espanhola, a arquitetura ficou mesclada com a arquitetura inca, onde várias
sobreposições são percebidas. Houve um terremoto em 1950 que destruiu muitas
coisas, mas os nativos contam que tudo que era de construção Inca se manteve de
pé e o que era espanhola ruiu. Isso se vê claramente na construção de padres
dominicanos sobre o Templo do Sol: a parte Inca ficou e a dos padres se foi.
Vale
Sagrado, onde a energia emana de todos os lados.
O Vale Sagrado é
conhecido por rios que descem pequenos vales. São vários sítios arqueológicos e
povoados. Os incas estabeleceram aqui as experiências agrícolas por causa das
variações geográficas e climáticas do local. Foi um dos principais pontos de
produção de milho no Peru.
Ollantaymbo possui terraços agrícolas e
templo do sol. As casas são de pedras da época inca. E em Maras, as salineiras são uma beleza à parte. Essas salineiras
recebem águas salgadas debaixo das montanhas que jorram e formam as piscinas
para extração do melhor sal. Cada poço de sal pertence a uma família e vai
passando para os descendentes.
Pisac tem
suas ruínas que foram posto militar, por isso estão no topo das montanhas. Moray foi estação agrícola experimental.
O que me deixou muito confusa: com tanto conhecimento já desenvolvido na
produção agrícola e hidráulica pelos incas, porque nós ainda tentamos inventar o
que já foi inventado?
A parada no museu Inkary é o ponto alto. Aqui tive uma
aula de história sobre as civilizações andinas e a conquista Inca, bem como a
explicação para os desenhos de Nazca. Se os deuses eram astronautas, não
sabemos, mas que há uma escultura pré-colombiana de um astronauta é fato.
Aguas
Calientes, a um passo de Machu Picchu
O trem parte de vários pontos e chega até Aguas Calientes. Eu preferi pernoitar para seguir à Machu
Picchu bem cedo. Aproveitei e conheci o clube de águas termais medicinais. Um
local rodeado de montanhas e que é muito frequentado pelos nativos. Águas Calientes
é somente um ponto de parada com hotéis e restaurantes para quem vai seguir
Machu Picchu.
Machu
Picchu 2430 metros de altitude e onde Deus sentou para admirar a criação
Às 6 da manhã segui para Machu Picchu (em quíchua Machu Pikchu, "velha
montanha") também chamada "cidade perdida dos Incas", pré-colombiana
muito bem conservada (os espanhóis nunca chegaram lá, por isso ela mantém suas
origens Incas sem interferência). Está localizada no topo de uma montanha, a
2400 metros de altitude, no vale do rio Urubamba. Foi construída no século XV,
e foi redescoberta em 1911 por um inglês Hiram
Birgham. Mas antes disso, muitos nativos já sabiam da existência dessa
cidade e foram esses nativos que ajudaram Hiram
Birgham a encontrá-la porque estava coberta pela
vegetação. São mais de 200 sítios arqueológicos, mas apenas cerca de 30% da
cidade é de construção original. Há muitas versões
sobre a cidade: teria sido um local construído com o objetivo de supervisionar
a economia das regiões, refugio do Imperador Inca, reduto das Virgens do sol,
escola de sábios, centro astronômico e enérgico do planeta, enfim...Machu
Picchu era para aprender, se conectar aos deuses, repensar e retornar, já
prescreviam os Incas.
O caminho por Machu Picchu é exaustivo e exuberante. Há
que subir muito e com guia a caminhada vem completa de história: áreas agrícolas
com grandes terraços e locais de armazenamento, área urbana com seus templos sagrados,
praças e mausoléus reais. Toda a organização e estrutura da cidade faz com que
haja a passagem do deus sol.
Para os Incas, existiam
3 níveis espirituais: o mundo de cima (representado pelo Condor e considerado
um animal sagrado e guardião do mundo de cima), tinha a missão de carregar
os mortos para o mundo de cima ou dos espíritos. Havia o mundo do meio ou dos
homens (representado pelo puma) e o mundo de baixo ou dos mortos (representado
pela serpente). A serpente representa o cérebro responsável pelos instintos e
sobrevivência, o puma é responsável pelas emoções e sociabilidade e o condor a
capacidade de voar, o que transcende. Diferente do mundo ocidental os incas
buscavam uma visão integrada da realidade, dentro de um contexto indígena
(xamanismo), segundo o qual o universo é uma grande teia de aranha que um leve
toque altera tudo em sua rede. Visão holística do universo.
Quantas portas e passagens,
quantas subidas e degraus fotografei. A recomendação de todos os guias era “não
carregue peso”. Com licença aos poetas e intelectuais, essas portas e passagens
levavam a uma imensidão e essas subidas e degraus exaustivos levavam a
contemplação de cima, do topo, de tudo. Excelente chance para reflexão sobre o
tempo que temos de vida: seria tão mais leve de se viver entrando pelas portas
e passagens e seguir subindo cada degrau para a contemplação do todo, com o
mínimo de peso das costas, afinal, não se leva nada dessa vida: essa não é a
máxima de envelhecer com sabedoria? Temos muito que aprender com essa
ancestralidade. Voltei do Peru assim: com uma vontade de envelhecer com
sabedoria, e ainda tanto que aprender.
Obs. 1: aprendi muito da história com os guias que me acompanharam, mas o livro “a ciência sagrada dos incas – KAW.RIBAS, gentilmente emprestado pelo amigo Frank vilela, foi fundamental para compor esse texto.
Obs. 2: viajantes são
vizinhos. Eis que tive a grata alegria de encontrar uma amiga que conheci em
outra viagem. Obrigado Maiara Jacobucci pelas risadas e Piscos. Conheci a
Suzana Val de São Paulo que, assim como eu, viajava sozinha e me encantou sua
juventude e deslumbramento. Suzana me renovou.
Obs. 3 : A Dayse da New Age sabe muito de personalizar viagens!
Leveza é tudo!!! Lindo texto amiga! Bj Ana Medeiros
ResponderExcluirTexto muito bem escrito, viajei nas suas palavras!
ResponderExcluirGratidão. <3