(Re) conhecendo nosso Rio de Janeiro - SANTA TERESA – RJ
O Rio de Janeiro tem um mundo de história em cada esquina, porém muitos
turistas se concentram na zona sul por motivos óbvios: praia e paisagem que
deixa qualquer pessoa sem ar! Quem nunca ouviu comentários sobre a beleza estonteante
do Rio em ter o mar e montanhas numa mesma vista? Concordo plenamente.
Mas tem uma coisa que não deixo passar por nada em cada viagem: as histórias que cada lugar me conta! Que
batalhas, dores, descobertas, amores e paixões esses locais me trazem na
memória? E o Rio tem histórias que merecem ser (re) lembradas, (re) conhecidas,
exploradas e compartilhadas. ComSaltoeAsas foi nas origens que contam sobre a nossa
colonização e todas influências culturais, políticas e sociais, e porque não
dizer até “emocionais?
Rio de Janeiro, capital do Império, desde que D. João parte de Portugal
para o Brasil em rota de fuga por causa da invasão das tropas Napoleônicas. A
colônia tornou-se sede do Governo de Portugal em 1808 e assim o Rio foi se
transformando sob forte influência portuguesa, nossas raízes africanas e no
seio de uma turbulência de encontros e desencontros culturais. Transferir a
corte para o Brasil era transferir também costumes, valores, educação, crenças.
A intensidade dessa ocupação está em cada pedaço deste chão.
O bairro de Santa Teresa é parte
de tudo isso. Conhecido como um bairro de classe média alta, famoso desde séc.
XIX principalmente pelas casas elegantérrimas de inspiração francesa. Pelas
ruas do bairro é possível sentir a história viva e com a elegância de ter o
bonde como meio de transporte!
O bairro começou com o convento “Santa Teresa” no séc. XVIII e também
com a vinda de famílias nobres e ricas para região. O bonde mesmo surgiu em 1872 e fiquei sabendo
que a cor era verde mas foi substituída pelo amarelo
porque os moradores diziam que o bonde se confundia em meio à vegetação e
muitos não o viam se aproximar causando acidentes e contratempos.
Hoje o bairro é ocupado por intelectuais, acadêmicos, artistas e
pessoas que buscam essas características históricas e culturais, além da
qualidade de vida que proporciona. Famoso
pela gastronomia e boemia, considerado uma das principais atrações turísticas e
carinhosamente apelidado de “O Montmartre carioca", uma alusão ao bairro
francês!
Esse roteiro apaixonante me foi apresentado por um projeto de turismo da
cidade chamado Revelando o Brasil.
Esse projeto tem mais de 15 mil seguidores no Facebook onde é feita toda a divulgação
e agenda das atividades. Surgiu em 2016 a partir do encontro de guias de turismo
apaixonados pela cidade do Rio que trouxeram um modelo já conhecido na Europa
chamado free walking tour. A ideia é proporcionar roteiros instigantes,
curiosos, apaixonantes e cheios de histórias peculiares. E cá entre nós:
conhecer a história do Brasil é muito difícil com tantos detalhes! Mas o Revelando o Brasil é “expert” nisso!
O tour começa bem cedo no Largo da Lapa, ali ao lado da sala Cecília Meireles com vista para Igreja Nossa Senhora da Lapa do Desterro.
Após uma breve apresentação da Guia de Turismo (com aquela simpatia inerente ao
carioca), seguimos pela Rua Teotônio Regadas e avistamos os grafites Selarón e
outros artistas. A sensação é estar entrando num filme de época.
Ela aparece belíssima, como se fosse um grande tapete colorido, onde o
vermelho se destaca ao percorrê-la: Escadaria
Selarón (que também era conhecida por escadaria do Convento de Santa
Teresa) é uma obra de arte criada pelo artista chileno radicado no Brasil,
Jorge Selarón, em "homenagem ao povo brasileiro".
Tudo começou quando
em 1990 Selarón decidiu recuperar degraus da escadaria de frente a sua casa,
sem ainda ter intenção de transformá-la numa obra de arte. No início, alguns
vizinhos estranharam as combinações de cores sem nenhum critério e, acreditem,
parece que as peças foram colocadas com muita simetria e organização. De um
passatempo, virou um estilo de arte e vida para Selarón até cobrir todos os
degraus. São duzentos e quinze degraus cobertos por mais de dois mil azulejos de
vários países.
Em 2005 a escadaria foi tombada pela prefeitura da cidade e
Selarón recebeu o título de cidadão honorário do Rio de Janeiro.
Lamentavelmente o artista foi encontrado morto carbonizado em 2013, na
escadaria da Lapa.
Ao final da escadaria chegamos na Ladeira
de Santa Teresa, onde fica o Convento
de Santa Teresa, da Ordem do Carmo Carmelitas Descalças, dedicado a Santa
Teresa de Ávila, que nasceu na Espanha, Reino de Castela. Olhem só as
coincidências históricas!!!! Portugal e Espanha se confundem nas suas ocupações
geográficas. O convento é de total
enclausuramento e a construção (bem sóbria) foi executada para proporcionar
isso. São grades com lanças afiadas nas janelas dos quartos do convento e tudo
muito fechado para que fugas das moças lá “hospedadas” pelas famílias, fossem
evitadas.
A subida continua até a rua Dias de Barros, onde a vista da Baía de
Guanabara é de tirar o fôlego e um belíssimo grafite na parede lateral de um
prédio.
Paradas para fotos e seguimos ao Centro
cultural Municipal Parque das Ruínas onde está localizada a casa de uma
personalidade ímpar e envolvente: Laurinda
Santos Lobo.
Mulher à frente de seu tempo, protetora e incentivadora das artes,
literatura e ciências, rica e desprovida de preconceitos. Costumava reunir
intelectuais e artistas em seu palacete (construído entre 1898 e 1902), palco
de transformações artísticas e políticas no país. Em 1920 sua casa era ponto de
encontro do Modernismo. Uma mulher que abria as portas de sua vida para o novo
e que se tornou emblemática na história de Santa Teresa. Sua casa recebeu personalidades
como Tarsila do Amaral, Isadora Duncan e foi homenageada por Villa-Lobos com a
peça Quattour - impressões da vida mundana. Considero essa parada o ponto alto do roteiro.
Aqui a história está no ar, a energia é sentida nas paredes, nos jardins, na
vista, no glamour e na melancolia de um tempo onde a liberdade das mulheres era
para pouquíssimas, como Laurinda, numa conquista muito solitária, cheia de
coragem, rupturas e, claro, muito preconceito. Uma mulher que apoiava o
desenvolvimento das artes de uma forma original e com nossas culturas
misturadas ao que se tinha de arte mais elitista.
Essa parada é para fotos, conhecer o centro artesanal, pequenos
lanches, passeios pelos jardins, tomar fôlego e seguir em direção ao Largo do Curvelo, onde fica uma das
principais estações dos bondes. Seguimos na direção da Rua Almirante
Alexandrino, antiga rua do Aqueduto para o Largo
dos Guimarães, área nobre do bairro. Nos arredores há bares e restaurantes,
além de brechós e lojas de artesanato, conhecido como “point” da boemia. À
noite, o local se transforma e convida ao prazer de beber, conversar e
paquerar. E ainda tem na esquina, o um pequeno cinema, o Cine Santa, muito bem
preservado e estiloso.
Já com uma sensação de que “o filme tá acabando”, passamos pela Paróquia São Paulo Apóstolo (Igreja Anglicana
do Brasil) e logo em seguida encontramos a Igreja
Ortodoxa Russa Patriarcado de Moscou. Chegamos na rua Riachuelo, fim do
circuito, deixando para trás Santa Teresa e a sensação de que temos muitas
histórias ainda a serem contadas.
A vista do centro do Rio no final da manhã
depois de uma viagem tão especial mostra a cidade acordado para mais um dia
normal. E a magia ficou lá em cima, pelas ruas de santa Teresa e pelas
histórias que lá se refugiam e se protegem para que sobrevivam ao caos da
atualidade que não tem tempo para contemplar o presente.
Nota: esse texto e algumas fotos tem participação de Marcia Almeida, carioca, apaixonada pelo Rio de Janeiro que não se cansa de buscar a beleza da história do Brasil e é uma agrande admiradora do trabalho "Revelando o Brasil"
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Agradeço seu comentário. Andrea Pires