Mostrando postagens com marcador Brasil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Brasil. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 5 de junho de 2025

quinta-feira, junho 05, 2025

A floresta inundada! - Reserva Mamirauá – Amazônia - AM

Amazônia é um mundo visto sob recortes por várias pessoas. Existe a Amazônia que se apresenta de longe, na mídia, nos filmes, em fotos, uma infinidade de nuances sob muitos olhares, com protagonismo da Fauna e Flora dessa biodiversidade.

Pouco vimos da Amazônia habitada e manejada pelas comunidades que lá vivem. Tive a sorte de conhecer o ciclo completo, onde as vidas coabitam com a interação humana que sobrevive, consome, protege e preserva a Amazônia no dia a dia, como parte inerente de sua existência.

Esse foi o roteiro mais surpreendente e inesperado que fiz, porque eu já esperava a estética da Amazônia, mas não imaginava o “pulsar” da Amazônia. Vi como pode ser perfeita a participação do ser humano nesse ecossistema, presenciei a hierarquia natural da força da natureza onde ela te proporciona tudo, mas também te coloca no seu devido lugar.

Uma força silenciosa que mexe com todos os sentidos, percepções e conceitos de vida, valores e ética.... sim.... a natureza tem uma ética natural que poderia bem ser aprendida pela sociedade moderna e urbana.

É difícil captar essa força com imagens e palavras, tão presente no ar, nos sons, nos cheiros e que invade a mente. Decidir conhecer a Amazônia foi fácil, mas descrever o que encontrei lá, não fará jus à experiência vivida e é a parte mais difícil dessa viagem: contar o que vi e vivi.

Em tempos de inteligência artificial e tiktok, volto aqui como nos velhos tempos, para tentar descrever por mim mesma o que foi esse furacão silencioso que é a Amazônia.

Mamirauá

Mamirauá é diferente de tudo, porque mostra a floresta inundada, ou seja, a água em abundância é a paisagem recorrente, mesmo nos períodos de seca. A diferença é que na época da cheia tudo é feito por barcos e na época da seca, é possível caminhar em partes não alagadas.

A proposta desse roteiro é um convite a imersão num projeto de desenvolvimento sustentável no coração da Amazônia. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá foi a 1ª. implantada no Brasil e fica no Lago Mamirauá (que significa filhote de peixe boi), localizado a 600 km de Manaus, bem no meio da Amazônia, cercada pelos Rios Solimões e Japurá. 

Esse enorme Lago tem profundidade que chega a 30 metros e nunca seca. Por isso a reserva é considerada a “floresta inundada” e um berçário natural para reprodução dos peixes da região.

Atualmente tem a exploração sustentável dos recursos naturais em harmonia com as comunidades locais (ribeirinhos) e participação de pesquisadores. A reserva foi criada a partir de um visionário chamado Marcio Ayres que, percebendo a degradação que existia na época, intercedeu na exploração predatória da floresta, bem como na exploração das comunidades locais por comerciantes da região, desenvolvendo um trabalho de conscientização junto à essas comunidades. A história da criação da reserva é contada com muito orgulho pelas comunidades de Mamirauá que participam dessa imersão do turismo em todos as frentes. São essas pessoas que trabalham, cuidam, protegem e ensinam o que é a vida na Amazônia.

Comunidades de ribeirinhos cercam Mamirauá e muitas tem buscado o reconhecimento de etnia indígena. Além de compartilhar suas histórias e sabedoria ancestral, atuam ativamente na vigilância da reserva e nas discussões sobre a preservação, amparadas por pesquisadores e instituições de preservação e desenvolvimento sustentável.


Pousada Uakari Lodge 

O nome vem do macaco UAKARI, que foi o motivo de estudo que levou o pesquisador Marcio Ayres a visitar a região e perceber a possível extinção do macaco em função da exploração predatória dos recursos da região e assim, iniciar a ideia de converter Mamirauá em reserva.



A pousada é flutuante, sustentada por material extraído da floresta, como um conjunto de bangalôs interligados por pontes à recepção central. É nesse conjunto arquitetônico que temos uma estadia muito simpática e alegre conduzida pelos habitantes das comunidades.

A Pousada UAKARI e toda equipe tem um cuidado especial em acomodar e dar segurança para o turismo de imersão, oferecendo estadias em pequenos grupos de 5 a 7 dias o até mesmo individual. As acomodações proporcionam conforto no meio da floresta, com a realidade do que se tem de recursos: luz de gerador, internet na recepção, ventiladores, mosqueteiros sobre as camas, redes nas varandas, tudo preparado com zelo e carinho.

É importante ressaltar que a consciência do consumo sustentável começa na chegada na Pousada, com as orientações e as explicações de como usar esses recursos corretamente e não agredir ao ecossistema que estamos adentrando.

Essa estadia é o ponto perfeito para conhecer a Amazônia por dentro. É aí que entendemos por que a Amazônia nos dá tudo se usarmos de forma correta.

Da própria Pousada já é possível observar a vida da Amazônia, com os Pirarucus e Jacarés que podem dar o ar de sua graça num passeio informal. Ou mesmo ficar observando a infinidade de pássaros da varanda do quarto. E, mais espetacular, é no cair da noite, no silêncio da floresta.

Como chegar

Recorri à Rickky's Trip4u Viagens, meu fiel organizador de roteiros Ricardo Ornelas, que possui uma experiência ímpar em  assessoria sobre toda a logística, cuidado extremo com a pesquisa do roteiro e foi ele quem viabilizou essa experiência na Pousada UAKARI  e falo isso com anos de roteiros sendo cliente dele.

A logística no Brasil para o norte não é simples e para Amazônia requer muita paciência. Os voos para Manaus são poucos e de Manaus para Tefé as opções de logística são menores ainda. Existe a opção de seguir de Manaus para Tefé de barco, mas o tempo é bem maior. A logística mais comum (a que fiz) é a seguinte:

CIDADE DE ORIGEM - MANAUS

MANAUS - TEFÉ (voos da Azul)

TEFÉ PARA RESERVA – Lancha já com o receptivo da Pousada Uakari.

Importante destacar que a Pousada Uakari programa a estadia em função dos voos da Azul, o que facilita muito a decisão de chegada.


Vamos ao que interessa: A experiência

A saída do porto de Tefé para a Reserva Mamirauá é de lancha e dura cerca de 1 hora e meia. A visão a partir do Rio Solimões e a imensidão das águas à frente faz com que a percepção da dimensão de espaço e tamanho, mude. Às margens, construções de ribeirinhos desafiam a sobrevivência com sua arquitetura.

Desbravando o Rio Solimões, adentramos Lago Mamirauá, imenso e rapidamente avistamos a Pousada UAKIRI. De longe, complexo se apresenta com seus bangalôs e um grupo simpático já nos espera com uma recepção muito acolhedora.

Desde a chegada o guia já nos convida a mudar a ideia de floresta em Mamirauá, pois como estamos na floresta inundada e na época da cheia, todos os passeios são feitos por barcos e, por isso, a visão que temos é da parte superior da floresta.

Os passeios começam ao nascer do sol, depois de um maravilhoso café da manhã amazonense. São programados em função do clima. Na cheia fazemos tudo de barco e a floresta te recebe, no tempo dela, pois é ela quem abre as portas.


Foram 5 dias de passeios pela “floresta inundada” com programação de manhã, tarde e noite sempre com uma novidade do que iríamos observar e sentir, além das conversas com os guias e o documentário que é apresentado sobre o projeto e que nos dá a dimensão da importância dessa Reserva.

Navegamos no alto da floresta. Daí a proximidade de visualização de uma infinidade de pássaros, preguiças e macacos, inclusive tivemos a sorte de ver um Uakari.

A presença do Jacaré açu, Botos, Pirarucus, é recorrente. A diversidade de plantas aquáticas e as incríveis árvores gigantes, tudo em tamanho desproporcional é uma visão assustadoramente maravilhosa, pois o Lago Mamirauá abriga animais gigantes e a dimensão humana torna-se miniatura.  É como se estivéssemos voando sobre a floresta, mas pela água.O primeiro dia tem uma programação de apresentação com uma saída de barco, deslizando pelo Lago e dando uma geral sobre a reserva e do que vamos adentrar num passeio mais amplo de lancha nos próximos dias.










Nos dias que seguem temos imersão nos Igarapés, mata fechada, onde sensorialmente conhecemos calmamente por canoa a floresta por dentro, deslizando por entre trilhas de água em observação e silêncio. Os sons que a floresta emite vão se transformando numa música altamente relaxante. A variedade de insetos, plantas e os sons dos animais do lago acompanham todo trajeto.


A cada passeio, uma paisagem diferente. Além da vegetação, temos o tempo de encontrar os botos (cinza e rosa) que, ao som do motor da lancha, vão se aproximando a bailam como uma conversa entre amigos, por que eles se sentem seguros e nós ficamos encantados.

Além dos passeios matutinos, o passeio para ver o pôr-do-sol em movimento é um show à parte, como um filme, onde as cores vão se transformando e no final parecem uma aquarela surrealista ou abstrata em movimento.


Importante destacar aqui a existência de comunidades ribeirinhas (mescla do indígena com o negro) onde indígenas foram apagados da história. Nessa reserva temos a visita local com um guia que nos recebe e explica como é a vida na comunidade. Visitamos a Comunidade São Jose, que tem a ancestralidade da tribo Kambeba já em processo de reconhecimento de identidade indígena. Uma forma de resgatar a história da ocupação inicial, a cultura e os valores que esses povos trazem ao longo de sua existência.

A experiência se completa com as saídas noturnas para observação de animais, dentre eles jacarés. Mas a cereja do bolo é estar no meio do Lago Mamirauá, totalmente escuro e ver o céu com os rastros da via láctea. O Lago escuro reflete (literalmente) o que está no céu. A sensação é de estar no meio do espaço, ouvindo os sons da terra, do ar, no silêncio da água.

E a prática (pelo menos a tentativa) de simular uma atividade local, como a pescaria de piranhas, é uma diversão à parte. Muitas risadas e fracassos, pois elas são muito mais espertas e sabem como dar um show sem serem pescadas.

Todos esses passeios são guiados por pessoas treinadas das comunidades locais que se revezam periodicamente. São pessoas com muita sabedoria (mesmo os mais jovens) que vão mostrando tudo que a Amazônia pode oferecer de acolhimento, desde que devidamente adentrada. Eles ensinam que “aqui aprendemos a ouvir a floresta e assim, sabemos o que e como fazer as coisas. Tem sabedoria maior que essa?


Não é um roteio fácil e existem algumas recomendações que podem ajudar nessa imersão:


1.     Eleger o período da seca ou do alagamento muda a rotina dos passeios.

2.     Ajustar a logística de forma a ter uma margem entre a chegada em MANAUS e a ida para TEFÉ, pode evitar contratempos entre uma cidade e outra.

3.     Seguir todas as recomendações pré-viagem

4.     Antialérgicos, pomadas e repelente são essenciais

5.     Roupas que cobrem e protegem tudo é muito importante

6.     Dá vontade de ficar filmando e fotografando tudo, mas observar é um luxo

7.     Aproveitar bem a culinária local

8.     Fazer novos amigos

Enfim, o que falar da Amazônia, só me vem à mente a Gênesis....

“No princípio Deus criou o céu e a terra.....e no 6º. Dia, Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom”


É isso mesmo. Em 6 dias conheci toda a generosidade da criação de Deus e vi que tudo é muito bom e que está bem aqui, pertinho, no Brasil.


Esse roteiro foi de amigas. Daquelas que “topam” qualquer nova experiência, com uma história de mais de 10 anos de amizade. Minha querida Ana Sofia me ajudou a ter coragem e me proporcionou muitas risadas e reflexões.

 









domingo, 19 de fevereiro de 2023

domingo, fevereiro 19, 2023

Uma rota de fuga necessária! - Serra Grande – Praia de Sargi – BA


Rotas de fuga são secretas.

São os pequenas e preciosas experiências que guardamos a 7 chaves. Geralmente não são compartilhadas para preservar a privacidade. São os nossos jardins secretos.

E  por que estou compartilhando ? Porque é tão grande a alegria desse jardim secreto que não cabe dentro de mim.

Quando comecei a escrever sobre os destinos, há 10 anos, o propósito era inspirar para voar bem longe, com ou sem medo. Sozinha ou acompanhada. Hoje, com esse propósito vencido, estou ajustando as experiências porque faz muito sentido falar e mostrar a grandeza do simples, do fácil, do leve, sem fórmulas e receitas “redondinhas”. 

A poesia está em divulgar que (para  mim), não importa tanto a ousadia ou a lonjura de ir, mas o que está à mão que pode trazer surpresas em chegar.

Com a pandemia (2020 a 2022), as buscas de destinos mudaram, elas ficaram mais intimistas e cheios de experiências. Muitos destinos no Brasil vem sendo descobertos quando anteriormente nem eram cogitados.

A Bahia é assim. Quando a gente acha que já viu tudo, aparece um novo lugar. E eu tenho uma queda pela Bahia. Confesso. E acho muito bom quando chego num lugar que (ainda) não foi descoberto e explorado pelo turismo de massa. São essas as rotas de fuga que descobri nesse período.

Mas, olha, corre, porque rapidamente será descoberta, ocupada e transformada num destino amplamente cobiçado pelo perfil urbano que busca o exótico como escape da vida corrida. Então, aproveita as dicas e se joga!


Serra Grande – Entre Itacaré e Ilhéus, a princesinha da Praia de Sargi.

Vamos situar essa maravilha!


Sargi fica no litoral  Sul da Bahia, na costa do cacau, em Serra Grande, cidade de Uruçuca. No mapa é fácil achar, pois ela fica entre Ilhéus e Itacaré. Só quem conhece o litoral baiano de norte a sul, entende por que a Bahia é de todos os Santos: Parece que aqui todos os orixás fizeram morada.

A praia é simples, rustica, inexplorada urbanisticamente e o com o tempero da Bahia : sol, brisa e preguiça, tão quente que dá vontade de não fazer nada...só ficar olhando. Os nativos são  muito simpáticos e poucos. O local sofreu um “boom de novos moradores” vindos de grandes cidades a partir da pandemia. É para descanso, isolamento e contato direto com a natureza. A praia tem cerca de 4,5km de pura paz e tranquilidade. O tempo nesse pedaço de areia é bem relativo, começa cedo, no nascer do sol. O local funciona com o “sol”.

Como chegar:

Eu fui de avião, por Ilhéus.

Os voos ainda são complicados para Ilhéus, pois as Cias. Aéreas podem alterar a rota de voo direto para voo com conexão, sem avisar o passageiro (isso aconteceu comigo).

Apesar de Ilhéus oferecer excelentes opções de turismo e ser a porta de entrada para o litoral da costa do cacau e do dendê com suas belíssimas praias,  as cias. Aéreas ainda não estão acompanhando a velocidade do turismo nessa região, lamentavelmente.

Chegando em Ilhéus, tem a opção de alugar um carro ou então, buscar um transfer ou taxi no aeroporto. No período que fui (janeiro/23) não havia a oferta de Uber no aeroporto e de Ilhéus para Sargi são quase 40km.

Outras formas de acesso é de ônibus ou carro.


Como se Hospedar:

Em Sargi existem pousadas “pé na areia” e casas para alugar.

Outra boa opção é ficar em Serra Grande, que fica a 8km da praia de Sargi. Recomendo estar de carro e ficar em Sargi para ter a experiência completa.

Sargi era uma vila de pescadores e hoje são muitas construções de casas e algumas pousadas para atender quem quer total desconexão com o stress de locais movimentados.

Somente uma única rua asfaltada. Minha hospedagem foi aluguel de casa ( éramos 3 pessoas) e isso nos trouxe a grata surpresa de vivenciar o dia a dia com todos as rotinas, perrengues e contatos com os nativos. 


A Praia:

São mais de 4km de praia totalmente nivelada, ótima para corrida, caminhada, contemplação e práticas de esportes de areia. Tem espaço de sobra.É uma praia de passagem para quem está hospedado em Ilhéus ou Itacaré, mas tem crescido muito a procura de permanência para quem quer tranquilidade completa. Nos fins de semana, o movimento é maior de turistas de passagem e, para quem está hospedado, durante a semana a praia é quase “particular” e “intimista”.  A praia é calma, água morna com areia branca e reluzente. A imensidão rouba toda a atenção e deixa a gente mal-acostumado com o som das ondas, a maciez da areia e a paz do local. Difícil é sair de Sargi para visitar outras praias e achar normal a multidão disputando um pedaço de areia, a música alta e o esbarra-esbarra a cada minuto de ambulantes. As poucas vezes que fizemos isso, voltamos correndo para Sargi.

Nas praias é possível conhecer poucas barracas de apoio.

A Barraca do Sargi tem uma excelente estrutura com bangalôs, rede de descanso e excelente atendimento. Perfeita para ficar o dia todo, com excelente Menu para almoço e petiscos e drinks elaborados. Nessa barraca as caixas de som são proibidas, dando uma experiencia coletiva mais agradável.

A Cabana Pé na Areia é quase um quintal de casa.  Coisa simples e rapidamente faz-se amizade com os atendentes. Tem uma excelente, sombra, cerveja gelada. Porém, corre-se o risco de algum grupo colocar a caixa de som com playlist duvidosa e você ter que passar o dia incomodado.

Uma característica bem marcante é que todos se conhecem em Sargi e todos se ajudam. O local ainda é carente de comércio e serviços, sendo Serra Grande a opção mais próxima (cerca de 8km). Os ônibus passam de hora em hora rigorosamente : tanto para Ilhéus, quanto para Itacaré. A Cia. Rota tem ar-condicionado e poltronas superconfortáveis.

Em Sargi a mercearia do JEL, que abre às 5hs da manhã,  é o ponto de socorro para quem está hospedado ou é morador habitual. Tem de tudo: de óleos essenciais a ovos e produtos de limpeza. Alguns dias na semana tem a feira e o peixe fresco na frente da mercearia. E, se não deu tempo de ir à feira, é só avisar na mercearia que o peixe fresco vem na porta de casa. Também passa o alface, cheiro verde e algumas frutas em carrinhos de mão na frente da casa.

Outra característica forte é que a praia tem movimento pelo período da manhã e no final do dia, quando o sol está mais ameno. É muito comum as pessoas saírem da praia as 7 da noite. A praia não tem iluminação e faz parte do projeto “a”mar, da Bahia (@projeto.amar_ba) sobre biodiversidade, preservação ambiental e proteção das tartarugas.


O que fazer pela redondeza:

Ir para Itacaré é uma opção. De carro ou de ônibus. Se for de ônibus, o ponto final é a rodoviária de Itacaré. De lá, qualquer taxi é 30,00 para praia ou centrinho. Mas dá para ir a pé da rodoviária, uma caminhada de 10 minutos até a rua principal do centrinho que chega nas praias.  Se a ideia é praia em Itacaré, depois de conhecer Sargi, a experiência pode ser frustrante. Itacaré está toda tomada de pousadas na beira mar e o volume de pessoas x ocupação da praia é surreal. Para quem gosta de multidão da alta temporada, é legal aproveitar Itacaré, ver pessoas (em Sargi é raro), variar na gastronomia e fazer comprinhas. Não há comprinhas em Sargi.

Um programa obrigatório é ir ao Mirante de Serra Grande, onde pode-se admirar a beleza das praias com um pôr-do-sol de tirar o fôlego.

Serra Grande é o “centrinho” que fica a 8km de Sargi. O movimento bom é à noite na pracinha com uma muitas opções gastronômicas. O acesso de ônibus à noite não existe. Carro ou táxi e o valor de táxi não é barato.

Outra grande experiência é conhecer uma fazenda de produção de Cacau!

Conhecer a história do cacau é obrigatório. Mas cuidado: há risco de não querer sair mais da região, dado a riqueza do litoral e das fazendas que cultivam o cacau e a energia da história que contamina e deixa a gente apaixonado.

O cacau é conhecido como alimento dos deuses e já era parte da culinária da civilização maia com o nome de cacahualt . Os povos maia e asteca cozinhavam o cacau e faziam uma bebida que chamavam de xocatl. Além de ser consumido como alimento, as amêndoas de cacau eram utilizadas como  moeda. Apesar de ser nativo da Amazônia, foi amplamente cultivado na Bahia e no início do século XX o cacau era o mais importante produto de exportação da Bahia. Nos anos 90 houve a praga  “vassoura de bruxa” e a produção ficou comprometida, gerando uma grande crise no setor. Nesse período, a produção de cacau na África cresceu muito em contraponto à queda da produção na Bahia. Ainda hoje a Bahia participa da produção mundial, mas timidamente.

E, para o Brasil, o cacau é mais do que um produto de exportação, pois é parte da nossa cultura literária. Jorge Amado foi um grande disseminador da zona do cacau, levando, através da sua obra, histórias da região da zona do cacau, onde era seu lar na infância.

Fazenda Capela Velha:

A experiência de visitação é completa: desde a plantação de cacau, até a fabricação de chocolate. A Fazenda abriga todo o processo do cacau, ou seja, a matéria prima para ser vendida ou exportada para as fábricas de chocolate. E também possui uma fábrica de chocolate local que utiliza amêndoas selecionadas para fazer chocolates que não deixam nada a desejar dos suíços. 

A visita nos leva a uma aula completa de história, botânica, agricultura e gastronomia. Desde a plantação, os tipos de cacau e as safras, passando pela colheita e separação da polpa e da amêndoa.

Além do processo completo, o local é um parque de diversões para arquitetos e decoradores de interior com a criatividade e sensibilidade com que o espaço foi organizado e preparado para contar a história do cacau com muito carinho.


Descobri que do Cacau se aproveita tudo!

A amêndoa de cacau (fresca) tem uma polpa branca e muito saborosa. Dali extrai-se banha que atende a indústria cosmética, do suco da polpa (néctar) é produzido o mel de cacau, a geleia e o licor.

Na separação da amêndoa torrada com a casca, a casca vira chá de cacau. E tudo isso pode ser degustado na visita à fazenda.


Ilhéus bate-volta

Um pouquinho da grandeza que a imortal Ilhéus pode oferecer.

A casa de Jorge Amado

Ilheus está para Jorge Amado como Cartagena está para Gabriel Garcia Marquez.  Ou seja, em cada esquina, um personagem de Jorge Amado surge. Assim Ilhéus se mostra. Um conto ou uma história de Jorge Amado.

O palacete é de arquitetura exuberante e original que foi construído pelo pai de Jorge Amado no final da década de 1920 e o próprio Jorge Amado viveu a infância e adolescência. Hoje é um museu que conta a vida de Jorge Amado com exposição de roupas, fotos, registros de momentos e família.


Bataclan


Quem nunca sentiu a curiosidade de visitar o Bataclan e mergulhar nas águas de Gabriela?

Desde 1920, hoje é um restaurante que mantem as memórias do local. Foi ambiente de damas de companhia e dançarinas retratadas em Gabriela Cravo e Canela. Esse espaço que era conhecido como cassino, brilhou nos anos 20 e 30 e era ponto de visitação dos coronéis do cacau, jagunços, marinheiros, boêmios e intelectuais. 

Todos vinham pelas mulheres e pelas atrações, lazer, negócios e muitas histórias de amores impossíveis. No andar superior preserva um museu com o quarto da Maria Machadão, mulher à frente de seu tempo que fez história e que ainda mantém viva a memória do foi o Bataclan.

É isso! Um refúgio de memórias esse pedaço da Bahia. Uma rota de fuga que nos leva ao começo, à ancestralidade, à natureza, uma viagem nas nossas raízes brasileiras. E, voltando ao passado, a gente volta com energia para o futuro.

 




segunda-feira, 15 de novembro de 2021

segunda-feira, novembro 15, 2021

Eram os Deuses Astronautas? Serra da Capivara – PIAUÍ– PI

Quem imagina que no centro do país está acontecendo uma grande revolução na história do surgimento do homem nas américas?

Pois então, essa história já conhecida, porém pouco se divulga e se fala, apesar de ter sido notícia no New York Times há 30 anos!!!!

As descobertas vem mudando os rumos da pré-história e da chegada do homem nas américas e foi isso que descobri no coração do Brasil, linda terra - Piauí. 

Esse roteiro proporciona vivências únicas: pré-história, história e ecoturismo intenso. Uma infinidade de emoções num curto espaço de tempo. Por quê?

Conhecemos a pré-história com mais de 1000 sítios arqueológicos em estudos e escavações. Alguns  já comprovam a existência do homem há mais de 50 mil anos. As figuras rupestres estão por toda a parte, os estudos e escavações são intensos e as descobertas constantes.

Aprendemos sobre a história do sertanejo e a caatinga com toda sua riqueza. É o Brasil e sua diversidade, seu povo, sua sobrevivência no semiárido e a força do sertanejo. É fundamental para cada brasileiro conhecer sua história.

Desfrutamos do ecoturismo com suas trilhas e paisagens lindas e fortes. Foram 4 dias de quase 30km de caminhadas, subidas, descidas, escaladas e muitos caminhos que levam à pré-história e história, no sertão, no calor, com a companhia dos mandacarus que só observam, mas não servem de apoio e nem de sombra. Muita terra vermelha, muita pedra rolada (onde já foi mar). Muita pedra para subir e muita vista para contemplar.

É muito chão e muitos olhares. Pouco tempo, mas a dimensão de tempo na Serra da Capivara tem outra medida. Em 5 dias, parece que estive fora 1 mês no isolamento e nas descobertas. E tudo isso, no estado do Piauí, região da caatinga, ainda parte do Vale do São Francisco.

Esse roteiro tem que ter um bom planejamento de logística. Além do aéreo, o deslocamento até a base de hospedagem, as visitas nos sítios, alimentação precisam ser programadas.

Não é um local de fácil acesso e com disponibilidade para quem chega de surpresa, por isso que ter tudo já fechado antes da chegada, é fundamental. O receptivo que me acolheu foi a Selva Branca . Impecável. Recomendo e assino embaixo.

Como chegar?

A malha aérea pode ser por Petrolina ou Teresina, sendo que Petrolina é mais próxima da Serra da Capivara. De Petrolina para a para a Serra da Capivara são cerca de 500 km. O receptivo/transfer começa na cidade base de Petrolina, conforme estava previsto no pacote que contratei. Se for de carro, é fundamental ter um receptivo contratado (os sítios não são acessados sem guia) e ter hospedagem reservada, pois as opções são restritas.

Onde ficar?

Em São Raimundo Nonato é mais estruturado e tem mais opções, inclusive com hotéis, porém fica cerca de 37km para o Parque.  Essa distância, pode não ser vantajosa para as trilhas e as visitas aos sítios.  Já em Cel. José Dias é um ponto mais próximo e com algumas opções de pousadas e está 18km do Parque. No povoado do Sítio do Mocó a experiência de viver a rotina do local e a distância é bem menor do parque - 3km. Agora, para uma experiência sem precedentes, o Albergue Serrada Capivara é a melhor opção. Possui a proximidade do parque (localiza-se dentro do parque), a hospedagem tem quartos privativos com ar-condicionado. O atendimento é muito acolhedor. Além de ser dentro do Parque, possui restaurante com um delicioso café da manhã, almoço e jantar.  O Albergue/Pousada tem a Girleide como proprietária, além do restaurante  e da fábrica de cerâmica. E a história da Girleirde merece ser contada por ela mesma, mas já posso adiantar que ela é da mesma coragem e ousadia que  Niède Guidon. Na caatinga, mulheres à frente sacode a cultura local. E Girleide e Niède Guidon fizeram e fazem isso.

A fábrica de cerâmica foi criada pela Niède Guidon como escola, já pensando na sustentabilidade do povo da região. Hoje emprega um quantidade grande de nativos. O processo é todo artesanal, desde o preparo da argila até os desenho rupestres que os artesãos inscrevem à mão livre, sem molde, apenas com um catálogo de referência. A fábrica atende grandes lojas do circuito nacional como Tok Stok e Les Lis Blanc. Também vende para lojistas de todo Brasil e no varejo para quem visita a loja da fábrica, no mesmo local.

O dia na caatinga começa muito cedo e termina cedo também. Por volta das 20hs, todos se recolhem e por volta das 5hs, a natureza começa a despertar.





Voltando um pouco para sala de aula!

Não tem como falar desse roteiro sem falar daquilo que aprendemos na escola  com informações “quentes” e com mais emoção, claro!

A hipótese mais conhecida sobre a chegada de humanos à América seria através do Estreito de Bering cuja teoria defende que há cerca de 10 mil anos os homens vindos da Polinésia (na região da Oceania) chegaram na América do Sul pelo estreito de Bering. É aí que surge a persona-chave nesse questão da Serra da Capivara: Niède Guidon. Arqueóloga franco-brasileira que veio nos anos 70 para a região da Serra da Capivara e até hoje permanece, onde vive em São Raimundo Nonato.

A paixão e a seriedade de Niède Guidon pela arqueologia projetou suas descobertas para o cenário mundial, sendo respeitada e honrada pela defesa de sua hipótese sobre o povoamento das américas a partir das descobertas na Serra da Capivara e pela sua luta na preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara. Niède Guidon defende a teoria de que os primeiros povoadores vieram pelo Atlântico, da África,  comprovada nas descobertas dos sítios arqueológicos da Serra da Capivara cujos artefatos datam de cerca de até 58 000 anos AP (Antes do presente -AP é uma marcação de tempo utilizada na arqueologia, paleontologia e geologia, que tem como base de referência o ano de 1950 D.C ).  Essa teoria está documentada pelos resultados pesquisa científica em 2006 da Universidade de Paris e Universidade Católica de Goiás sobre objetos encontrados em 1978 no Boqueirão da Pedra Furada onde está constatado que foram realmente feitos por seres humanos entre 33.000 a 58.000 anos, o que muda as hipóteses anteriores.

Sobre os sítios arqueológicos

São mais de 1300 sítios arqueológicos descobertos e mais de 200 catalogados e abertos para visitação. Ainda há muita coisa para documentar e escavar, mas o que se vê no local é surpreendente. O roteiro pode ser ajustado pelo perfil do visitante com trilhas mais longas, mais intensas, mais fáceis e até mesmo acessar de carro os sítios para quem não puder ou quiser seguir pelas trilhas. Existe muito cuidado do receptivo em entender o perfil do visitante para adequar à intensidade e dificuldade do passeio. Em 4 dias de visitação, não vi nem 10% do que o Parque oferece e foi intenso, tanto pela parte física quanto pela parte da história. A caminhada sempre leva a uma vista panorâmica. Muito calor. A paisagem é forte com o contraste das pedras, dos mandacarus, facheiros, xique-xique, palmas, coroa de frade, enfim,  a certeza de que estamos na caatinga. As pinturas rupestres vão aparecendo gradativamente em cada sítio.

1o dia

Trilha do Hombu -  Circuito Jurubeba, visita à Toca da Ema, Sitio do Brás 1, Toca dos Macacos, Toca da Roça, Toca do Mangueiro e Sitio do Bras 2.





Circuito Sitio do Meio, Toca Boqueirão Pedro Rodrigues, Ponta da Serra e Toca do Sítio do Meio.



O dia acaba no sítio de maior concentração de pinturas rupestres e vestígios da pré-história: Boqueirão Pedra Furada. As pinturas de cor vermelha na sua maioria, podem ser de mais de 23.000 anos e os vestígios de ocupação do homem pode ser de até 60.000 anos.




2º. Dia a trilha foi mais intensa.

Travessia da Pedra Furada para o Baixão das Mulheres.










3ª Dia

Circuito Serra Branca, Baixão das Andorinhas para ver a revoada e conhecer o recente sítio descoberto em 2010 com outras figuras rupestres.





4º. Dia, caminhada mais leve

Desfiladeiro da Capivara, onde tudo começou para a Niède Guidon. Toca do Pajau,  Toca do Barro e Toca do Paraguai (1o. Sitio descoberto),Toca do Martiliano, Toca da pedra Caída, Toca da boca do Sapo, Toca da Invenção





Enfim....

Foram 4 dias intensos. Conhecer o passado nos dá entendimento do presente. Por algum motivo esses povos registraram suas rotinas, suas danças, suas crenças, suas dores, suas festas, registraram suas vidas.

E cá estamos nós tentando desvendar o óbvio da existência humana e nos admirando com cada descoberta. Mas por quê? Não seria óbvio ter existido vida passada?

Daqui a 50 mil anos quem sabe nossos registros serão descobertos e estudados. E os povos do futuro se assustarão com a descoberta da nossa existência? Pensando assim, que tudo fica para ser descoberto, qual legado queremos deixar para o futuro?







Visite Brasília

Andrea Pires

Com Salto&Asas é um lugar de verdade, onde compartilho as memórias das viagens que mudaram minha vida e que me transformam diariamente. Sonhar, Planejar e Realizar, o melhor caminho para ter o Mundo nas Mãos! comsaltoeasas@gmail.com

Adquira aqui seu e-book