A floresta inundada! - Reserva Mamirauá – Amazônia - AM
Amazônia é um mundo visto sob recortes por várias pessoas. Existe a Amazônia que se apresenta de longe, na mídia, nos filmes, em fotos, uma infinidade de nuances sob muitos olhares, com protagonismo da Fauna e Flora dessa biodiversidade.

Esse foi o roteiro mais surpreendente e inesperado que fiz, porque eu já esperava a estética da Amazônia, mas não imaginava o “pulsar” da Amazônia. Vi como pode ser perfeita a participação do ser humano nesse ecossistema, presenciei a hierarquia natural da força da natureza onde ela te proporciona tudo, mas também te coloca no seu devido lugar.
Uma
força silenciosa que mexe com todos os sentidos, percepções e conceitos de vida,
valores e ética.... sim.... a natureza tem uma ética natural que poderia bem
ser aprendida pela sociedade moderna e urbana.
É difícil captar essa força com imagens e palavras, tão presente no ar, nos sons, nos cheiros e que invade a mente. Decidir conhecer a Amazônia foi fácil, mas descrever o que encontrei lá, não fará jus à experiência vivida e é a parte mais difícil dessa viagem: contar o que vi e vivi.
Em
tempos de inteligência artificial e tiktok, volto aqui como nos velhos tempos,
para tentar descrever por mim mesma o que foi esse furacão silencioso que é a
Amazônia.
Mamirauá
Mamirauá
é diferente de tudo, porque mostra a floresta inundada, ou seja, a água em
abundância é a paisagem recorrente, mesmo nos períodos de seca. A diferença é
que na época da cheia tudo é feito por barcos e na época da seca, é possível
caminhar em partes não alagadas.
A
proposta desse roteiro é um convite a imersão num projeto de desenvolvimento
sustentável no coração da Amazônia. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável
(RDS) Mamirauá foi a 1ª. implantada no Brasil e fica no Lago Mamirauá (que significa filhote
de peixe boi), localizado a 600 km de Manaus, bem no meio da Amazônia, cercada
pelos Rios Solimões e Japurá.
Esse
enorme Lago tem profundidade que chega a 30 metros e nunca seca. Por isso a
reserva é considerada a “floresta inundada” e um berçário natural para
reprodução dos peixes da região.
Atualmente tem a exploração sustentável dos recursos naturais em harmonia com as comunidades locais (ribeirinhos) e participação de pesquisadores. A reserva foi criada a partir de um visionário chamado Marcio Ayres que, percebendo a degradação que existia na época, intercedeu na exploração predatória da floresta, bem como na exploração das comunidades locais por comerciantes da região, desenvolvendo um trabalho de conscientização junto à essas comunidades. A história da criação da reserva é contada com muito orgulho pelas comunidades de Mamirauá que participam dessa imersão do turismo em todos as frentes. São essas pessoas que trabalham, cuidam, protegem e ensinam o que é a vida na Amazônia.
Comunidades
de ribeirinhos cercam Mamirauá e muitas tem buscado o reconhecimento de etnia
indígena. Além de compartilhar suas histórias e sabedoria ancestral, atuam
ativamente na vigilância da reserva e nas discussões sobre a preservação, amparadas
por pesquisadores e instituições de preservação e desenvolvimento sustentável.
O
nome vem do macaco UAKARI, que foi o motivo de estudo que levou o pesquisador Marcio
Ayres a visitar a região e perceber a possível extinção do macaco em função da
exploração predatória dos recursos da região e assim, iniciar a ideia de
converter Mamirauá em reserva.
A pousada é flutuante, sustentada por material extraído da floresta, como um conjunto de bangalôs interligados por pontes à recepção central. É nesse conjunto arquitetônico que temos uma estadia muito simpática e alegre conduzida pelos habitantes das comunidades.
A Pousada UAKARI e toda equipe tem um cuidado especial em acomodar e dar segurança para o turismo de imersão, oferecendo estadias em pequenos grupos de 5 a 7 dias o até mesmo individual. As acomodações proporcionam conforto no meio da floresta, com a realidade do que se tem de recursos: luz de gerador, internet na recepção, ventiladores, mosqueteiros sobre as camas, redes nas varandas, tudo preparado com zelo e carinho.
É
importante ressaltar que a consciência do consumo sustentável começa na chegada
na Pousada, com as orientações e as explicações de como usar esses recursos
corretamente e não agredir ao ecossistema que estamos adentrando.
Essa estadia é o ponto perfeito para conhecer a Amazônia por dentro. É aí que entendemos por que a Amazônia nos dá tudo se usarmos de forma correta.
Da
própria Pousada já é possível observar a vida da Amazônia, com os Pirarucus e
Jacarés que podem dar o ar de sua graça num passeio informal. Ou mesmo ficar
observando a infinidade de pássaros da varanda do quarto. E, mais espetacular,
é no cair da noite, no silêncio da floresta.
Como chegar
Recorri
à Rickky's Trip4u Viagens, meu fiel organizador de roteiros Ricardo Ornelas, que possui uma experiência
ímpar em assessoria sobre toda a logística,
cuidado extremo com a pesquisa do roteiro e foi ele quem viabilizou essa
experiência na Pousada UAKARI e falo isso com anos de roteiros sendo cliente dele.
A
logística no Brasil para o norte não é simples e para Amazônia requer muita paciência.
Os voos para Manaus são poucos e de Manaus para Tefé as opções de logística são
menores ainda. Existe a opção de seguir de Manaus para Tefé de barco, mas o
tempo é bem maior. A logística mais comum (a que fiz) é a seguinte:
CIDADE
DE ORIGEM - MANAUS
MANAUS
- TEFÉ (voos da Azul)
TEFÉ
PARA RESERVA – Lancha já com o receptivo da Pousada Uakari.
Importante
destacar que a Pousada Uakari programa a estadia em função dos voos da Azul, o
que facilita muito a decisão de chegada.
Vamos ao que interessa: A experiência
A
saída do porto de Tefé para a Reserva Mamirauá é de lancha e dura cerca de 1 hora
e meia. A visão a partir do Rio Solimões e a imensidão das águas à frente faz
com que a percepção da dimensão de espaço e tamanho, mude. Às margens,
construções de ribeirinhos desafiam a sobrevivência com sua arquitetura.
Desbravando o Rio Solimões, adentramos Lago Mamirauá, imenso e rapidamente avistamos a Pousada UAKIRI. De longe, complexo se apresenta com seus bangalôs e um grupo simpático já nos espera com uma recepção muito acolhedora.
Desde a chegada o guia já nos convida a mudar a ideia de floresta em Mamirauá, pois como estamos na floresta inundada e na época da cheia, todos os passeios são feitos por barcos e, por isso, a visão que temos é da parte superior da floresta.
Os
passeios começam ao nascer do sol, depois de um maravilhoso café da manhã
amazonense. São programados em função do clima. Na cheia fazemos tudo de barco
e a floresta te recebe, no tempo dela, pois é ela quem abre as portas.
Foram
5 dias de passeios pela “floresta inundada” com programação de manhã, tarde e
noite sempre com uma novidade do que iríamos observar e sentir, além das
conversas com os guias e o documentário que é apresentado sobre o projeto e que
nos dá a dimensão da importância dessa Reserva.
Navegamos
no alto da floresta. Daí a proximidade de visualização de uma infinidade de pássaros,
preguiças e macacos, inclusive tivemos a sorte de ver um Uakari.
A presença do Jacaré açu, Botos, Pirarucus, é recorrente. A diversidade de plantas aquáticas e as incríveis árvores gigantes, tudo em tamanho desproporcional é uma visão assustadoramente maravilhosa, pois o Lago Mamirauá abriga animais gigantes e a dimensão humana torna-se miniatura. É como se estivéssemos voando sobre a floresta, mas pela água.O primeiro dia tem uma programação de apresentação com uma saída de barco, deslizando pelo Lago e dando uma geral sobre a reserva e do que vamos adentrar num passeio mais amplo de lancha nos próximos dias.
Nos dias que seguem temos imersão nos Igarapés, mata fechada, onde sensorialmente conhecemos calmamente por canoa a floresta por dentro, deslizando por entre trilhas de água em observação e silêncio. Os sons que a floresta emite vão se transformando numa música altamente relaxante. A variedade de insetos, plantas e os sons dos animais do lago acompanham todo trajeto.
A cada passeio, uma paisagem diferente. Além da vegetação, temos o tempo de encontrar os botos (cinza e rosa) que, ao som do motor da lancha, vão se aproximando a bailam como uma conversa entre amigos, por que eles se sentem seguros e nós ficamos encantados.
Além dos passeios matutinos, o passeio para ver o pôr-do-sol em movimento é um show à parte, como um filme, onde as cores vão se transformando e no final parecem uma aquarela surrealista ou abstrata em movimento.
Importante destacar aqui a existência de comunidades ribeirinhas (mescla do indígena com o negro) onde indígenas foram apagados da história. Nessa reserva temos a visita local com um guia que nos recebe e explica como é a vida na comunidade. Visitamos a Comunidade São Jose, que tem a ancestralidade da tribo Kambeba já em processo de reconhecimento de identidade indígena. Uma forma de resgatar a história da ocupação inicial, a cultura e os valores que esses povos trazem ao longo de sua existência.
A experiência se completa com as saídas noturnas para observação de animais, dentre eles jacarés. Mas a cereja do bolo é estar no meio do Lago Mamirauá, totalmente escuro e ver o céu com os rastros da via láctea. O Lago escuro reflete (literalmente) o que está no céu. A sensação é de estar no meio do espaço, ouvindo os sons da terra, do ar, no silêncio da água.
E
a prática (pelo menos a tentativa) de simular uma atividade local, como a pescaria
de piranhas, é uma diversão à parte. Muitas risadas e fracassos, pois elas são
muito mais espertas e sabem como dar um show sem serem pescadas.
Todos
esses passeios são guiados por pessoas treinadas das comunidades locais que se
revezam periodicamente. São pessoas com
muita sabedoria (mesmo os mais jovens) que vão mostrando tudo que a Amazônia
pode oferecer de acolhimento, desde que devidamente adentrada. Eles ensinam que
“aqui aprendemos a ouvir a floresta e assim, sabemos o que e como fazer
as coisas”. Tem sabedoria maior que essa?
Não
é um roteio fácil e existem algumas recomendações que podem ajudar nessa imersão:
1.
Eleger
o período da seca ou do alagamento muda a rotina dos passeios.
2.
Ajustar
a logística de forma a ter uma margem entre a chegada em MANAUS e a ida para
TEFÉ, pode evitar contratempos entre uma cidade e outra.
3.
Seguir
todas as recomendações pré-viagem
4.
Antialérgicos,
pomadas e repelente são essenciais
5.
Roupas
que cobrem e protegem tudo é muito importante
6.
Dá
vontade de ficar filmando e fotografando tudo, mas observar é um luxo
7.
Aproveitar
bem a culinária local
8.
Fazer
novos amigos
“No
princípio Deus criou o céu e a terra.....e no 6º. Dia, Deus contemplou toda a
sua obra, e viu que tudo era muito bom”

É isso mesmo. Em 6 dias conheci toda a generosidade da criação de Deus e vi que tudo é muito bom e que está bem aqui, pertinho, no Brasil.
Esse roteiro foi de amigas. Daquelas que “topam” qualquer nova experiência, com uma história de mais de 10 anos de amizade. Minha querida Ana Sofia me ajudou a ter coragem e me proporcionou muitas risadas e reflexões.