Planejando o “quase” impossível - Intercâmbio depois dos 50!
Verdade seja dita : muitos da minha geração tem como regra que pouco nos é permitido sem nos sentirmos culpados. Não julgo essa “FORMA” de pensar porque foi assim que aprendi. E levamos algum tempo para mudar o que é cultural. Pequenas conquistas são para serem comemoradas com prazo de validade. E as derrotas devem ser sofridas também num tempo curto e certo. Isso me proporciona muita cautela. Talvez seja por isso que a palavra que mais me assombra é ESCASSEZ. Sob todos os aspectos: emocional, material e espiritual.
Tenho medo da ESCASSEZ. E a de cunho material é a que
tem um vínculo mais forte e visível com um histórico de vida (claro). Por isso assumi,
desde muito cedo, o desafio de planejar detalhadamente cada passo relacionado à
despesa ou ganho financeiro, de forma a me dar um certo controle sobre o medo
da escassez material.
Essa compulsão de planejar me permite organização em excesso, porém nem sempre me permitiu desfrutar como gostaria.
Por que?
Porque para
quem planeja exaustivamente, como eu, sempre está olhando para frente, para o
futuro, sem muito tempo de ficar no presente.
Aprendi muito cedo, logo que comecei a trabalhar, que o padrão de vida pode aumentar, conforme os ganhos aumentam, porém, ele não deve comprometer a qualidade de vida no futuro. De que adianta viver um alto padrão de vida no presente, endividado e não pensar que o futuro chega rápido? Ao longo dos anos fui (cautelosamente) aumentando meus objetivos e percebi que com planejamento financeiro é mais provável alcançá-los, porém, não quer dizer que será fácil. Então, se eu fosse colocar numa balança, seria algo assim: meu estilo de vida não pode ser maior que os meus objetivos de médio e longo prazo.
Ou seja, se mantenho um alto estilo de vida, certamente vou comprometer os objetivos. Por isso, decidi ser minimalista em algumas áreas da vida para poder alcançar alguns objetivos bem ousados.
Isto posto para contextualizar, consigo explicar sobre como
foi possível fazer esse intercâmbio fora do Brasil, reforçando que o estilo de vida foi
determinante e ajustado para que eu pudesse realizá-lo.
Como começou esse planejamento
Quanto? Como? Quando?
Quanto!
Primeiro passo foi ter dimensão do valor total para esse
objetivo. Pesquisei por muito tempo e recorrentemente. Fiz pesquisas a cada 3
meses nesses últimos 4 anos, considerando os vários cenários econômicos que
pudessem interferir na conversão da moeda (real para euro) e criei uma planilha
com as projeções:
- Passagem aérea - coloquei todas as possibilidades de
chegada na cidade destino, as opções de quebrar a chegada em aéreo e terrestre,
pesquisei os dias da semana que os valores variavam para maior ou menor e a
época do ano. Fiz um mapa de possibilidades sobre passagem aérea.
- Hospedagem: coloquei na planilha as opções de hospedagem em
hotel, casa compartilhada e quartos individuais. Incluí as vantagens e
desvantagens. De cara, hotel foi descartado, pelo valor e pelo desconforto de
ficar fechada num quarto sem janela (como sempre ocorre). A hospedagem tinha
que ser adequada para permanência, já que o período seria longo.
- Pesquisei os valores dos custos do curso que eu gostaria
de fazer e as opções que poderiam ter com mais de um curso e se havia algum
desconto para tempos prolongados.
- Fiz uma projeção de gastos de alimentação e o dia-a-dia,
pesquisando na cidade o preço de comida, transporte, etc...buscando muitos vídeos
de viajantes e blogs que falam sobre isso.
Planilha Pronta com POSSIBILIDADES! Próximo passo .....
Como!
O segundo passo do planejamento foi definir como seria esse
intercâmbio. Foi fundamental pensar no
dia-a-dia com o objetivo de estudar e morar. Me incorporar na rotina dos
moradores era o ponto mais importante. Por isso excluí despesas que ocorrem
quando estamos de férias e defini o objetivo de hospedagem um local mais longe
do setor de turístico. O planejamento estava ajustado para um estilo de vida de
estudante.
Quando!
O terceiro passo foi pensar quando seria esse intercâmbio. O
planejamento começou de verdade em 2019, porém, a pandemia colocou tudo em
banho-maria. Sem perspectiva, no final de 2022 retomei-o e coloquei a meta para
2023. Só faltava definir quanto tempo seria de intercâmbio.
Fechado o planejamento, parti para as decisões já em janeiro
de 2023 com a perspectiva de fazer o intercâmbio em junho de 2023. Todas as
pesquisas financeiras coloquei numa régua de tempo de permanência de 1 a 3
meses.
Por que?
Para saber qual seria o mais vantajoso, considerando que a passagem é o custo que se deprecia com a quantidade de tempo no destino e o valor varia muito em determinados períodos.
A hospedagem e despesas de alimentação para um tempo maior são os custos mais variáveis e que impactam com mais força no orçamento. Qual seria o ponto de equilíbrio?
Cheguei na melhor projeção para 2 meses.
- A passagem decidi chegar no destino final com voo de
conexão: o valor planejado não me dava o luxo de chegar em Madrid, passar uns
dias e ir para Granada. Seriam despesas que não foram planejadas.
- A hospedagem optei por Airbnb um quarto com varanda e banheiro
privativo (esse luxo não abri mão), e a localização seria num ponto distante da
área mais badalada e num local que me permitisse trabalhar remotamente.
- Alimentação: a projeção por dia foi bem menor do que no
período de férias. Optei em buscar opções de comprar comida em mercados que eu
pudesse comer em casa na semana. Optei em fechar um valor em dinheiro em
espécie, de forma a não me descontrolar com cartão. Ou seja, por dia, posso
gastar “x” reais com alimentação. Despesas extras, seriam no cartão de crédito.
O efeito psicológico disso é que não posso voltar do intercâmbio com cartões de
crédito comprometidos porque minha rotina no Brasil voltará ao normal.
- Transporte: a cidade é muito linda para caminhar. Apesar
do calor e das ruas sempre em ladeiras, me convenci que caminhar ou pegar
ônibus fazem parte dessa imersão.
Comprei as passagens em janeiro, acertei a hospedagem em
março e, por fim, fiz a inscrição no curso (seriam 2 cursos, mas o orçamento me permitiu apenas 1 curso) em abril. Desta forma, se durante a estadia eu conseguir economizar
na alimentação, posso contratar aulas extras. Esse é o trato comigo mesma.
E foi assim, simples mesmo: quanto, como e quando, tomada de
decisões e execução.
Por trás dos bastidores!
Já em 2022, com esse planejamento, ajustei a minha rotina do
dia-a-dia para cumprir o prazo da meta – 2023.
Tudo foi perfeito? Não. Tinha época que eu desistia e
deixava o planejamento de lado, achando quase impossível chegar no objetivo de
ir. Mas, retomava. Nem sempre com otimismo. Não engavetei, mas teve períodos
que eu achava impossível.
Nesse tempo de espera e planejamento não deixei de fazer
coisas importantes, tais como pequenas viagens, entretenimento, cuidados
pessoais. Mas tive que mudar a rotina e ter mais trabalho e tempo para: cozinhar
mais vezes, organizar melhor as compras do mês para aproveitar promoções (mesmo
que eu tivesse que ir mais longe para comprar) e criar obstáculos de consumo,
sempre me perguntado: realmente preciso disso? Porquê? Para que? Se uma dessas
perguntar não eram respondidas, não comprava.
Outras despesas relacionadas ao consumo deixei para depois
do intercambio, ou seja, meu calendário de planejamento tinha 2 datas: AI e DI
(antes do intercambio e depois do intercambio).
Foi muito difícil manter-me focada. Não tem mágica. Não tem
receita. Somente planejamento e meta.
E agora estou aqui. Em tempo real, fazendo valer o que foi
planejado, mas com flexibilidade para não me cobrar tanto se fugir um pouco do
orçamento. A ideia é deixar esses 2 meses fluírem, sem culpa, já que muito me
foi permitido.
E, quem sabe, inspirar outras pessoas?